sexta-feira, 29 de junho de 2012


Princípio-Terra
A partir dos anos 60 com as viagens espaciais começamos a ver a Terra de Fora da Terra. É uma imagem nunca dantes vista. Os astronautas usaram expressões patéticas, como “a Terra parece uma árvore de Natal, dependurada no fundo escuro do universo “, “ele é belíssima, resplandecente, azul  e  branca “, “ela cabe na palma da minha mão e pode ser encoberta com meu polegar”.  Outros tiveram sentimentos de veneração e de gratidão. Todos voltaram com renovado amor pela casa comum, a nossa boa e velha Terra.
Esta imagem esta criando uma nova consciência. Na perspectiva dos astronautas, que é uma visão cósmica, a Terra e o ser humano formam uma única  entidade. Nós não vivemos apenas na Terra. Somos a Terra que anda, como dizia o poeta cantante argentino Atauhalpa Yupanqui. Somos a Terra que pensa, a Terra que ama, A Terra que sonha e a Terra que reza. Somos filhos e filhas da Terra. Ocorre que esta Terra esta ameaçada. Ela está doente em razão de séculos de agressões por parte da espécie homo,  que é simultaneamente sapiens ( inteligente ) e ( demente ). Essa espécie mostrou que pode ser homicida (mata homens) e etnocida  (mata etnias ).Agora pode  ser ecocida (mata  ecossistemas), biocida ( mata espécies vivas ) e tragicamente também geocida (mata a Terra).  Mas certamente o ser homano não demorou milhões de anos para se formar para cumprir um destino assim tão trágico. Ele não precisa ser o satã da Terra. Ele pode ser seu Anjo bom. Sua vocação é cuidar da Terra como quem cultiva um jardim, como aquele do Édem.
Dadas as ameaças que pensam sobre todos nós, a Terra ganhou uma nova centralidade. Ela não é o centro físico do universo. Mas ela é o centro afetivo da humanidade. Só temos para nós este planeta. É aqui que amamos, choramos, esperamos, sonhamos e rezamos. Lentamente estamos descobrindo que o valor supremo é assegurar a persistência do planeta Terra, a herança que o Universo e Deus nos entregaram para zelar e aperfeiçoar, e é também garantir as condições para que se  realiza a espécie humana e cada um de seus membros da forma o mais coletiva e solidária possível. Em razão desta nova consciência, falamos do princípio-Terra. Ele funda uma nova radicalidade. Cada saber. Cada instituição, cada tradição espiritual e religiosa e cada pessoa devem colocar-se esta  pergunta: que faço eu para preservar a pátria comum, a Terra, e garantir que tenha futuro, já que ela há 15 bilhões de anos está sendo construída e merece continuar a existir?
As reflexões que apresentamos, parte de uma preocupação maior que vem sob o titulo Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres ( Ática, 1995 ), querem despertar um novo amor e veneração pela Terra. Daí a importância para a prática e para o pensamento do princípio-terra. Despertar para esta importância é o que se propõe o presente livro.
Leonardo Boff – Fazenda Sossego, Santana do Deserto, MG, verão de  1995.
Livro – Pincípio-Terra – A volta à Terra como Pátria comum.
Deus abençoe.

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