quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


A MORALIZAÇÃO DO CONCEITO DO PECADO

 

Entre os povos primitivos o pecado era considerado ofensa contra Deus, e por algum tempo alguns israelitas tiveram esta mesma opinião. A lei moral representa a vontade de Deus para o ser humano, no que diz respeito ao seu comportamento e aos seus principais deveres. A lei moral tem como finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando seus pecados e auxiliando, a discernir entre o bem e o mal. A lei moral revela o bem que reflete o caráter de Deus, e por isso ela é aplicável em todas as épocas e ocasiões. A lei moral acha – se resumidamente, compreendida nos dez mandamentos que estão registrados êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.1-21. Os quatro primeiros mandamentos tratam de nossos deveres para com os outros, e os outros seis mandamentos, de nossos deveres para com DEUS. A lei moral associava-se, às vezes, com o costume do povo. Davi pecou quando numerou o povo de Israel, uma coisa que “não se fazia em Israel”. T.H.Robinson fala sobre outras nações que influenciaram a Israel a pecar. Israel era influenciado pela pratica de adoração de outros deuses, que não fazia parte da cultura de Israel, e sim da vida de seus vizinhos pagãos.  Removida do centro histórico de seu império no norte,etill manter uma existência independente entre os seus Vizinhos semitas. Em meados do terceiro milênio BC a influência dominante era a de Babilônia, cuja primeiro império atingiu o seu apogeu sob Hammurabi. Em (Oséias 6:6). O sacrifício oferecido como substituto da justiça era abominação perante o Senhor (Am. 5:21-24; Is. 1:10-17). Tais sacrifícios, com a multiplicação de “altares para pecar” (Os. 8:11).

Os profetas ensinaram com clareza e com ênfase que qualquer injustiça praticada contra o próximo é pecado contra Deus. Com ênfase nos pecados sociais, os profetas chegaram a entender mais claramente a natureza dos pecados de outros deuses e o culto prestado aos ídolos fabricados pelos homens minavam as bases religiosas da ética.

O conteúdo moral da lei, sobretudo no campo dos direitos e deveres sociais, não é original a outra leis vétero-orientais e deveres sociais, não é original em relação a outras leis vétero-orientais. A diferença, porém, está no fato de que Israel tem consciência de que, com seu comportamento moral, corresponde à vontade de Yahweh em relação ao seu povo e colaborava para a construção da história. Contudo não interessa ao profeta apenas que seu povo ou nações gozem de uma vida serena “á sombra da videira e da figueira”. O futuro caracterizar-se-á intimidade com ele. Oséias esperava a renovação das bodas entre Deus e Israel (Os 2,16-22). Isaias e Sonofias esperavam a sobrevivência de um “resto” humilde que se refugiaria no Senhor (Sf 3,12s) Jeremias esperava uma nova aliança escrita no coração (jr 31,31-34). Ezequiel esperava uma purificação, uma efusão do espirito e um coração de carne (Ez 36,25-28). Os profetas profetizavam contra a falta de moral da época, em quanto o povo passava necessidade, os Reis não fazia nada pra mudar a situação do povo. Os profetas também eram contra à falta de santidade, e a adoração a outros deuses que os Reis de Israel adoravam.
Deus lhes abençoe
Pr. Gilmar Abel

 

 

 

 
 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013


INTRODUÇÃO

Alguns filósofos que contribuíram direta e fundamentalmente para o desenvolvimento da pesquisa sobre o ser. A física, como as ditas ciências exatas, tem uma história, na medida em que suas antigas concepções da natureza são em todos os sentidos, realmente “passadas”, e portanto, aparecem como totalmente dependentes do  tempo.

A PERGUNTA PELO SER

Mas, afinal, se o ser é o núcleo do desenvolvimento desse trabalho e o elemento “sine qua non” da metafísica, como a pergunta sobre o ser do ente surge a investigação filosófica?

A partir da constatação da existência das coisas, pouco a pouco a mente humana percebe algo com maior fundamentação: o fato de que antes das coisas existirem, elas são, o que faz emergir a pergunta sobre o ser á reflexão filosófica.

A metafísica é a indagação sobre o ser, sobre o fundamento último das coisas, sobre os princípios e constitutivos da realidade.

O nascimento da metafísica coincide com o próprio nascimento da filosofia. Os pré-socráticos, ao buscarem a origem de todas as coisas, isto é, princípio que permanece na transição e do qual toda a realidade teria se originado, deram início a reflexão metafísica.

Mas o estudo do ser somente ganhou consistência a partir da proposta de Parmênides, de que o ser ´s o não-ser não é.

AS CRÍTICAS À METAFÍSICA

As críticas feitas á metafísica são bem conhecidas, especialmente depois de David Hume. De certo modo, o próprio Aristóteles já havia indicado sua inutilidade: “ainda que todas as demais ciências sejam mais necessárias do que essa ciência, nenhuma é melhor do que ela” ( ARISTÓSTELES, 2006,49 ).

Em outras palavras, a filosofia primeira, do ponto de vista prática, é uma ciência inútil por excelência: a vida poderia ser trilhada sem nenhuma necessidade de interrogar-se sobre o ser, ou sobre a existência do supersensível.

Mais que nos tempos de Aristóteles, hoje é possível acusar a metafísica de inatualidade, porque aquilo que, historicamente, não produz nada, não pode nem mesmo ter uma visibilidade histórica.

METAFÍSICA E ONTOLOGIA

Enfim, a metafísica é ontologia como ciência do ente enquanto ente e enquanto busca as suas primeiras causa e princípios. É teologia, porque na elucidação inteligível do ente enquanto ente se revelará, dentro dos limites da razão, o ato puro do ser como fonte originária dos entes.

A crítica é metafísica enquanto as implicações do conhecimento na sua máxima extensão e radicalidade. A ontologia é metafísica transcende a descrição fenomenológica e o âmbito categorial. A metafísica só é possível como ciência se no ato pelo qual o homem conhece as coisas do seu mundo estiver necessariamente incluída, como condição necessária de inteligibilidade, a afirmação do transcendente. O conhecimento metafísico deve revelar-se como constitutivo de qualquer conhecimento intelectual.

A FILOSOFIA  PRIMEIRA

A metafísica fundamenta-se no pressuposto de que existe uma realidade em si ( como, por exemplo, Deus alma, mundo, matéria, forma, essência, substância ), que pode ser estudada pela razão humana, resultando num conhecimento verdadeiro.

Qual a origem da palavra metafísica? Na verdade, a palavra “metafísica” não foi criada nem utilizada pelos filósofos gregos. Aristóteles, considerado o pai da metafísica, chamava aquilo que nós conhecemos por metafísica de filosofia primeira, em posição a filosofia segunda, que era a física.

A metafísica é a investigação sobre os princípios primeiros e as causas mais elevadas da realidade e por isso é denominada primeira, não somente por sua primazia sobre as demais ciências, mas pela anterioridade do seu objeto: a substância imóvel, a causa primeira e universal, o fundamento dos entes particulares. Aristóteles dava preferência a expressão “filosofia primeira”, no sentido de que ela é a filosofia originária, que não pressupõe nada além de si mesma e está na base de todo ser filosófico.

METAFÍSICA : A AVENTURA DE UM TERMO

A palavra “metafísica” encontra-se na Idade Média como metaphysica, utilizada, particularmente, por Averróis, o comentador, para referir-se á Philosophia próte, isto é a, filosofia primeira de Aristóteles. Portando, a tradição medieval começou a usar o termo “metafísico” vinculando à filosofia aristotélica. Aliás, a origem da própria palavra “metafísica” esta ligada a descoberta dos 14 livros da filosofia primeira de Aristóteles, uma coletânea que reúne quase a totalidade do conhecimento aristotélico em matéria do estudo do ser.

Após a morte de Aristóteles, seus escritos foram confiados a Teofrasto, seu fiel discípulo e seu sucessor no Liceu.Este por sua vez, ao morrer, deixou sua biblioteca, juntamente com a de Aristóteles, a Neleu, que havia sido discípulo de ambos.

Andrônico de Rode transferiu-se para Roma e, conhecendo muito bem o valor dos escritos de Aristóteles, porque tinha nutrido no liceu, os estudou com muito zelo e aplicação, transformando-se no primeiro restaurador de tais obras.

A expressão grega metà ta physikà significa aquelas coisas ou aqueles objetos que estão depois, que vem depois das coisa físicas ou então para além da natureza física.Apesar de existir uma reflexão metafísica que caracteriza o nascimento da filosofia e que ganhou maior evidência com Parmênides e Platão, Aristóteles é considerado o pai da metafísica, pelo fato de ter sido o primeiro a formular a idéia de uma ciência que “estuda o ser enquanto ser”, o que denominou de filosofia primeira.

 

RELAÇÃO ENTRE METAFÍSICA E ONTOLOGIA

A palavra “ontologia”, cunhada no século XVII, é constituída por dois vocábulos gregos: onto e logia, e significa estudo do ser ou “doutrina do ser e de suas formas” ( ABBAGNANO, 2005,p.848). Nesse sentido, a etimologia permite o uso do termo “ontologia” como sinônimo de “metafísica”, perspectiva essa que foi adotada por Johannes Clauberg, Christian Wolff e pelo filósofo de Konigsberg, Immanuel Kant.

O filósofo alemão Jacobus Thomasius considerou que a palavra ontologia seria a mais adequada para designar o estudo da filosofia primeira, pois se esta é o “ estudo do ser enquanto ser” e se a ontologia estuda o ser, o termo “ontologia”, descreveria com maior precisão do que a palavra “metafísica” o estudo da filosofia primeira de Aristóteles.

Acontece que Aristóteles não definiu sua filosofia primeira somente como o “estudo do ser enquanto ser”, mas também como o estudo dos princípios primeiros e constitutivos da realidade.

OBJETO DA METAFÍSICA

O termo “objeto” da palavra latina objectu ( ob+jectare ) e significa aquilo que é lançado ou colocado diante de,  em frente de. Em sentido lato, é tudo aquilo que se dirige ao ato consciente do sujeito. O objeto da ciência divide-se em material e formal, sendo que o objeto material é constituído pelo ser concreto e total que se estuda e o objeto formal é a característica particular, o aspecto especial que se quer dar ao objeto material.

O objeto material da metafísica são todas as coisas, todos os entes que compõem a realidade. Já seu objeto formal é o ser enquanto ser, descrito por Aristóteles em sua metafísica. Assim, enquanto as demais ciências estudam um ente particular ou um aspecto particular de um ente, a metafísica estuda todos os entes. Somente é possível chegar ao ser através dos entes.

O ENTE : PONTO DE PARTIDA DA METAFÍSICA

A palavra ente, grego= to ón, latim = ens, é de uso raro na língua portuguesa e, quando é empregado, designa alguma coisa sem determinação precisa: “ente querido”, “ente de outro mundo”, “entidade filantrópica”. Na metafísica, ente é usado para designar todo gênero de realidade, isto é, todas as coisas que compõem o Universo, como, por exemplo, uma pedra, um elefante, um cachorro, uma flor, um homem, uma árvore. No geral o ente significa : O que é, O que existe, O que é real.

A ESSÊNCIA: MODO DE SER DOS ENTES

O termo “essência” deriva da palavra grega ousía, que foi traduzida para o latim como essência e designa aquilo que faz uma coisa ser tal qual é. Os entes são compostos por dois princípios constitutivos: o ser ( existência ) e a essência.

Todos os entes que compõem o Universo possuem um elemento comum, o ser ( em diferentes graus ), pois todos são, mas, por sua vez, se diferenciam segundo a essência.O ser manifesta-se nos entes.É por isso que a metafísica possui como ponto de partida o ente particular, pois o ser não se manifesta por si só, mas somente no ente.

O SER: FUNDAMENTO DOS ENTES

No latim, ser se diz esse e em grego, on. Em metafísica, o ser é o elemento principal do ente, aquilo sem o qual o ente nada seria, isto é, não possuiria, por exemplo, forma tamanho, peso, cor ou qualquer realidade, pois estaria na categoria do não-ser e nem existiria. O ser não é uma realidade física, mas metafísica. Não posso, ao tocar um ente, exclamar: “toquei o ser”, pois o que toquei foi uma manifestação da essência do ser. Pois na medida em que o ente participa do ser, também existe e possui vários predicados ou atributos que são intrínsecos à  sua própria essência.

A QUESTÃO DO VOCABULÁRIO

Muitos filósofos empregam termos idênticos encontrados em outros filósofos, mas com sentido muito diferente ou, então empregam palavras diferentes para dizer o mesmo que outros já disseram. Dê fato, o fenômeno da linguagem tradicional, para Bertrand Russell, por exemplo, está em que a discordância, os equívocos, as ambigüidades girem, muitas vezes, em torno das palavras.

Sobre esse assunto, John Locke vai mais longe e afirma: “ sinto-me tentado a crer que, se examinássemos a fundo as imperfeições da linguagem, a maior parte das disputas cairiam por si mesmas, e que o caminho do conhecimento, e talvez o da paz, ficaria mais aberto para os homens.

O NASCIMENTO DA METAFÍSICA

A filosofia teve sua origem na Grécia. Surgiu no final do Século VII e início do VI a.C, nas colônias gregas da Ásia Menor, especialmente, na cidade de mileto. A palavra “filosofia” devirá dos termos gregos Philo ( amigo, amante )+ Sophia (sabedoria) e significa “amigo ou amante da sabedoria”, ou “amor e respeito pelo saber “, O nascimento da filosofia caracteriza-se pela idéia revolucionária da existência de uma ordem natural no Universo, capaz de ser decodificada e entendida, o que fez surgir uma nova fundamentação epistêmica para explicar os fenômenos.

Os primeiros filósofos, surpreendidos pelo vir-a-ser, isto é, pela mudança, investigaram qual poderia ser a substância fundamental, o princípio primeiro, o substrato que permanece estável diante do devir. Os pré – socráticos, ao buscarem o princípio primeiro do qual toda a realidade teria se originado, romperam com a tradição mítica a partir de um problema metafísico. Contudo, o estudo do ser somente tornou-se uma autêntica realidade com a proposta de Parmênides, “de que o ser é o  não-ser-não é, fazendo com que o ser deixasse de ser uma simples aspiração para tornar-se objeto de estudo.

PARMÊNIDES : O CAMINHO PARA O SER

A história da filosofia reconhece o mérito de Parmênides em ter posto, pela primeira vez, o ser como o problema primordial da reflexão filosófica e, ao mesmo tempo, o mérito de ter formulado uma resposta que permanecerá um ponto de referência essencial ao pensamento ocidental. Parmênides escreveu uma obra, na verdade, um poema, conhecido com o titulo “Sobre a natureza”, do qual chegaram até nós apenas fragmentos. A parte inicial desse poema ficou conhecida como prelúdio.

O PRELÚDIO DO POEMA

Em seu livro Introdução aos pré-socráticos, Álvaro José dos Penedos destaca as seguintes idéias, tiradas do prólogo do poema de Parmênides:

1ª) Parmênides realizou uma viagem; 2ª) Passou pelos portões dos caminhos da Noite e do Dia; 3ª)O poema é uma revelação de uma divindade a um mortal; 4ª)Parmênides aprenderá tudo, tanto o caminho da dóxa quanto o da alétheia. A filosofia é uma viagem perigosa, pois coloca o filósofo-viajante em contato com o mundo dos conceitos que, aluguns casos, exigirá a total renúncia de suas pré-formulações conceituais.

Não podemos nos esquecer de que a teoria do ser e do não-ser de Parmênides supervaloriza o pensamento em detrimento dos sentidos, valorização  essa mentida pela filosofia de Platão, mas desqualificada por Aristóteles, que concedeu uma dignidade aos sentidos ausente na filosofia de Parmênides e na de Platão. Assim, a referência aos caminhos da Noite e do Dia, no poema de Parmênides, exprime o conhecimento dos segredos do mundo dos mortos entre os iniciados e os não iniciados nos mistérios órficos.

A REVELAÇÃO DA DEUSA

O terceiro ponto destaca que todo o poema é uma revelação da deusa a um mortal.Na mitologia grega, esse recurso era natural. Assim, o mito era considerado inquestionável e sagrado, pois era uma revelação dos deuses.

Parmênides recorreu à autoridade da deusa para destacar que a verdade não está no homem, mas é uma descoberta. Do ponto de vista etimológico, Alétheia vem de léthos, que significa ocultar, velar, encobrir. Com a partícula negativa, aléthos ganha o significado de desvelamento, desocultamento, descobrimento.

OBJETIVO E ETRUTURA DO POEMA

O principal objetivo de Parmênides é o de reiniciar o conhecimento de uma verdade que não é alcançada pelo homem comum. Para isso, o filósofo empreende uma viagem junto à deusa que lhe vai mostrar o caminho seguro para chegar a verdade.A viagem é uma alegoria de iluminação, na qual se opera a passagem da ignorância da Noite para o conhecimento da Luz. Nesse fragmento, Parmênides faz uma crítica aos homens que não fazem a distinção entre o ser e o não-ser e, quando o fazem, não são capazes de se decidir e os seguem indiscriminadamente.Portanto, também existe uma terceira via, que é reprovada por não levar o homem a verdade, mas a vagar entre a ignorância e o conhecimento.

REFLETINDO SOBRE O POEMA: ALÉTHEIA E DÓXA

Para Parmênides, a procura do que das coisas, que está exposta em seu poema, deve seguir dois caminhos: o racional verdadeiro, o imutável e o perfeito (alétheia); e dos sentidos, da opinião, do costume (dóxa), que traduz a experiência confusa dos sentidos. Tais caminhos se opõem: aceitando-se um, nega-se o outro. A Alétheia esta ao lado do ser, é o ser, enquanto a dóxa se identifica com o não-ser, já que produz um discurso que não leva em consideração a identidade e a permanência do ser.Se o único caminho viável é aquele do “é”, só nos resta, então, compreender quais são as características “daquilo que é”.Parmênides estabelece que a sabedoria se torna essencialmente pensamento do ser ou, com um vocábulo moderno, “ontológico”.

OS PREDICADOS DO SER

Convém destacar e explicar, resumidamente, os predicados que dizem respeito ao ón, isto é, ao ser, segundo Parmênides: 1) O ón é presente. 2) Todas as coisa são entes, isto é são. 3) Além disso, esse ente é imóvel. 4) O ente é um pleno, sem vazios. 5) Por idêntica razão, é indestrutível e incriado. Na teoria do ser e do não ser, subjaz a valorização do pensamento em detrimento da percepção sensível. Para Parmênides, o ser é uno, eterno e imutável, invisível aos nossos sentidos, visível somente ao pensamento.

Assim, para Parmênides, o pensamento exige três elementos fundamentais: 1) A identidade, 2) A não-transformação, 3) A não-contradição. A verdadeira realidade, isto é, o ser, por estar subsumido ás aparências sensíveis, não pode ser captado pelos sentidos, mas apenas pelo pensamento.

AS CARÁCTERISTICAS DA DÓXIA

A via do que não é é impraticável e vincula-se à dóxa, isto é a opinião dos mortais.Essa via move-se dentro da esfera da verdade, e, por isso, pode ser verdade e erro. A verdade é que poderá decidir o que é verdade e o que é erro.

As coisas que parecem vir-a-ser são meramente uma ilusão dos sentidos.

A METAFÍSICA DE PLATÃO

A questão que preocupa Platão é a mesma que, há mais de um século, ocupava os filósofos precedentes: o problema do ser e do não-ser. A grande questão, ou se quisermos, a dificuldade fundamental era tornar compatível o ser – uno, imóvel e eterno – com as coisas – múltiplas, variáveis e transitórias. Platão aprofunda a pesquisa do ser, diferenciando entre aquilo entre aquilo que verdadeiramente é e aquilo que, ao contrário, é somente de modo aparente, finito, contingente. A solução do problema levou Platão à sintise epistêmica entre a filosofia de Parmênides e a de Heráclito, que as recuperou quase que integralmente, mas numa nova perspectiva, que chamou de mundo sensível e mundo das idéias.

A “segunda navegação” representa a contribuição pessoal de Platão, a navegação realizada sob o impulso de suas próprias forças para fazer o barco do pensamento a uma realidade suprassensível. Para Platão, a verdadeira causa pela qual Sócrates foi para o cárcere é de ordem superior, que representa um valor espiritual e moral: ele decidiu acatar o veredito dos juízes e submeter-se à lei de Atenas, acreditando que isso representaria o bem e o conveniente. Por essa razão, a “segunda navegação” constitui a fundação da história da metafísica.

 

O SER DAS IDÉIAS

Para nós modernos, as idéias são construções mentais peculiares a cada mente. A interpretação dada modernamente converte as idéias em unidades lógicas do pensamento cientifico, faz delas pontos de vista desde os quais o pensador, enfrentando-se ante as coisas, organiza suas sensações para conferir-lhes objetividade, realidade.

Em Platão, dada a natureza flutuante e mutável dos fenômenos sensíveis, o verdadeiro conhecimento (epistéme) é impossível. Este só será possível se houver uma realidade estável, permanente e eterna para além do meramente sensível. As Idéias platônica são realidades objetivas, não depende de nosso pensamento criá-las.Elas existem inteiramente por si mesmas.

Para Sócrates e Platão, a verdadeira causalidade opera sempre com o fim, enquanto as operações dos elementos físicos são apenas condições ou “causas acessórias”.

DEMONSTRAÇÃO DO MUNDO DAS IDÉIAS

No Féldon 79  o texto no qual Platão procura demonstrar a existência do mundo das idéias, e quais características da Idéia-Forma podem ser encontradas nele:

-Não é, pois, as coisas compostas ou cujas aquelas cuja natureza é composta, qua cabe corresponder precisamente a composição? Mas, se acontece haver alguma coisa não-composta, não é só a ela que convém, mais do que a qualquer outra coisa, o escapar a esse estado de decomposição.

AS IDÉIAS E AS COISAS SENSÍVEIS

Como indicamos acima, em Platão as Idéias podem representar princípios de unificação das coisas sensíveis. A idéia em si mesma é, em primeiro lugar, a unidade, reunião indissolúvel, amálgama de todos os caracteres de uma coisa, definição seus caracteres, a essência delas, o que se poderá dizer, a consistência. Em segundo lugar, Platão confere a ela existência real, de modo que as Idéias são as essências existentes das coisas do mundo sensível. Platão descreveu a maneira como um filósofo, que observou muitos objetos de beleza e que há muito refletia sobre a questão, poderia subitamente vislumbrar a beleza absoluta – a própria Beleza, suprema, pura, eterna e não relativa a qualquer pessoa ou coisa específica. O filósofo assim reconhece a Forma ou Idéia subjacente a qualquer coisa bela.

A IDÉIA-FORMA: FUNDAMENTO E PRINCÍPIO DO SABER E DO SER

A Idéia é também o fundamento do ser e o princípio de todo o saber, é a plenitude da existência. A  doutrina das idéias nasce da convicção de Platão de que este mundo físico, material, é cópia do mundo superior, eterno, inteligível.

O ser é o ser do ente, e, ao mesmo tempo, conhecer  uma coisa é saber o que essa coisa é. Não é possível descobrir uma única coisa e vê-la sem que se veja a sua idéia. O conhecimento verdadeiro só é possível a partir de uma apreensão direta das Formas substanciais, transcendentes, que são e estão além da constante confusão e imperfeição do plano físico. Assim Platão exige que o filósofo vá do particular ao universal, e alem da aparência à essência. Para Platão, como para Parmênides, as Idéias são realidades que existem, aliás, as únicas coisas realmente existentes, uma vez que as coisas que vemos, que caem sob nossas sensações, são sombras, imagens efêmeras delas.

A ALEGORIA DA CAVERNA

A teoria das idéias foi reproduzida no livro VII da República, por meio de um diálogo entre Sócrates e seu interlocutor, Glauco, que enfatiza a existência de uma realidade projetada para além da experiência sensível.

ENTENDENDO O TEXTO

Platão fala da existência de dois mundos:o sensível, que corresponde ao nosso mundo, e o inteligível, que corresponde ao mundo verdadeiro, ao mundo superurânico. No mundo sensível há duas divisões: o mundo das imagens, que na caverna, é o mundo das sombras produzidas pelos seres sensíveis, e  pode ser também reflexo produzido por objetos polidos e brilhantes a imagens revelam que existem modelos-; e o mundo dos seres vivos, as plantas, as coisas, as coisa em geral naturais ou fabricadas.Dessa forma, as imagens revelam coisa falsas, e os seres, que são modelos, apresentam os elementos de verdade.

Contudo, a aquisão da verdade somente tem sentido se compartilhada e difundida, por isso o filósofo torna à caverna, mas sem abandonar o conhecimento daquilo que verdadeiramente é, sem abdicar do mundo do ser por excelência.O Sol é a fonte e a causa do conhecimento que se tem do mundo, a claridade ou a obscuridade das coisas são relativas, isto é, dependem da luminosidade.

O DEMIURGO: O DEUS-ARTESÃO

O demiurgo é a divindade platônica plasmadora do cosmo, é a causa de uma ordem primordial fixada na matéria preexistente. Sua função é a de organizar a matéria caótica, fazendo-a passar da desordem à ordem, isto é, tornar o caos um cosmo. O mito platônico descreve a existência do cosmo, isto é, do mundo ordenado, a partir de três elementos: 1) um modelo; 2) um material; 3) um Demiurgo. O Demiurgo, ao transformar o caos em cosmo, move-se por um desejo, o de dar forma ao mais belo dos mundos possível.

METAFÍSICA DA ALMA

A propósito do tema perene da “ imortalidade da alma”, Platão aprofunda a busca do sentido inteligível da forma no Fédon.Exige, nessa reflexão, em termos psicológicos, a ponderação de vários tipos de argumentos. Imortal, a alma é preexistente e separada da condição corporal e sensível. Para Sócrates,  o “cuidado com a alma” é missão suprema do homem. Platão acrescenta que esse mandamento do  “cuidado com a alma” significa “purificação da alma”.  Conseqüentemente, é conhecendo que a alma cuida de si mesma, realiza a própria purificação, se converte e se eleva.

 

 

O PROBLEMA DA IMORTALIDADE

Nos diálogos anteriores ao Timeu, Platão pareccia propor que as almas não nascem, assim como também não morrem. No Timeu, elas são geradas pelo Demiurgo, com a mesma substância de que é feita a alma do mundo. Elas nasceriam, mas por determinação divina, não sujeitas à morte, como não esta sujeito à morte tudo o que o Demiurgo produz diretamente. Para Platão, o problema da imortalidade da alma se torna essencial.

Se a alma não encontrou a perfeição, poderá se reencarnar não só como  ser humano, mas também  como animal. Assim, almas que viveram na prática da virtude comum encarnam-se-ão em animais mansos, dóceis, sociáveis, atém em homens honestos.

A METAFÍSICA DE ARISTÓTELES

Comecemos por destacar a fragilidade da teoria de Platão mostrada por Aristóteles, como elemento de contato inicial com o pensamento aristotélico. Em vários de seus escritos, com muita freqüência, Aristóteles polemiza contra Platão combatendo o mundo das Idéias, porém mantém sempre o máximo respeito para com aquele  que chama de mestre ou amigo ( amicus Plato, sed major amicus veritas). Nas objeções de Aristóteles, é a  desnecessária duplicação das coisas;  o número das idéias tem de ser infinito; Se há Idéias de cada coisa, terá que haver também Idéias das relações, uma vez que percebemos as relações. Intuitivamente, entre as coisas; Se há Idéia do positivo, deverá haver também Idéias do negativo; A doutrina das Idéias não explica a produção, isto é, a gênese das coisas; Por fim, a última objeção de Aristóteles se refere á transcendência absoluta que põe uma cisão entre o mundo das Idéias e o mundo das coisas.

A ESSÊNCIA ESTÁ NA PRÓPRIA COISA

Diferentemente de Platão, Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais, dos seres humanos e de suas ações não esta no mundo das Idéias, separado do mundo sensível. As essências estão nas próprias coisas, nos próprios seres, nas próprias ações e é tarefa d filosofia primeira conhecê-las ali mesmo onde existem. Para o indivíduo em si, segundo Aristóteles, o que constitui a existência real é a atividade: ser é agir e agir é ser, diz Aristóteles.

A SUBSTÂNCIA

O termo substância tem uma série de significados diferentes nos diálogos de Platão e em Aristóteles. Parece que Aristóteles está convencido de que o problema posto pela questão “o que é ser?” realmente se resolve em “o que é a ousia (a substância)? Visto que o ser é, primeiramente e antes de tudo, substância. A substância é, para Aristóteles aquilo que existe numa unidade indissolúvel com o que é com sua essência e com seus acidentes.

Na Metafísica, onde se trata de refutar a teoria platônica, limita-se a negar que os universais sejam substâncias, enquanto as Categorias os chamam substâncias segundas ou substâncias num sentido secundário e derivado. Em qualquer caso, é o indivíduo o que é verdadeiramente substância, e só ele. A substância é, em suma, o correlato objetivo do sujeito na proposição, do sujeito no juízo. A substância se compõe de matéria e forma. De matéria-prima e forma substancial. É a teoria do hilemorfismo.O universal é a forma, o momento abstrato da substância.

 

DOUTRINA DO ATO E DA POTÊNCIA

Os pré-socráticos, preocupados em saber como um corpo se transforma em outro, concluíram que havia uma única substância que permanência sem sofrer quais mutações em corpos diferentes. Para Tales, essa substância era a água; para Anaxímenes, o ar para Heráclito, o fogo; para Anaximandro, o indeterminado. Parmênides, por sua vez, nega toda espécie de mudança. O ato, portanto, é primeiro que a potência. O qual provém sempre do potencial, e o potencial é sempre levado ao ato por algo  que já em ato.

MATÉRIA E FORMA

Uma das críticas fundamentais que Aristóteles fez a Platão consiste  em recriminar-lhe que as Idéias não tinham atuação, eram inoperantes. O que Aristóteles chama matéria? Trata-se de um conceito que nem sempre tem a ver com o que em física chamamos hoje matéria. Matéria, para ele. É simplesmente aquilo com que alguma coisa é ou está feita. A palavra “forma”, a toma Aristóteles a geometria. Isso se deve a influência que a geometria tinha sobre Sócrates e Platão. Não esqueçamos que Platão inscreveu na  porta de sua escola, A Academia, um letreiro que dizia; “ Ninguém entre aqui se não for geômetra”.

AS QUATRO CAUSAS

As causas das quais se ocupa a filosofia são apresentadas no livro da Física, e em número de quatro: a substância ou essência de uma coisa; a matéria ou o sujeito; a fonte do movimento ou causa eficiente; a causa final ou bem. No livro primeiro da Metafísica, Aristóteles passa em revista os ensinamentos de seus predecessores, para, segundo afirma, ver se trataram de alguma espécie de causas que não fossem os quatros enumerados por ele. Causa material, Causa forma, Causa eficiente e Causa final. A humanidade, por exemplo, não existe fora dos indivíduos que realizaram ou do pensamento que a concebe. Ela é a forma essencial e atual dos indivíduos do gênero humano.

O PRINCÍPIO DE INDIVIDUAÇÃO

Mas resta-nos ainda uma pergunta fundamental a ser respondida: o que faz com que tal coisa seja realmente tal coisa dentro de uma espécie? Porque não somos iguais, se somos todos iguais? A substância concreta sensível é, pois, um ser individual composto de matéria e Forma. Porém, o elemento formal de tal ser, o que faz que seja uma coisa concreta, é especificamente o mesmo em todos os membros de uma espécie. Essa teoria de que a matéria que individualiza costuma ser vista como conseqüência ou um legado do platonismo, para o qual a Forma é o universal.

SER E ACIDENTES: AS CATEGORIAS

O ser é objeto da filosofia.como será preciso concebê-lo? De início. Deve-se distinguir o ser do acidente, que não é nem sempre nem o mais freqüente, não pode ser objeto de ciência. Categoria é o modo pelo qual se revela o que uma coisa é ou age, o predicado de uma coisa ou de um sujeito.As categorias são os diversos modos de predicar o ser. São as seguintes: Substância (  homem ); quantidade ( um metro ); qualidade ( amarelo, roxo ); lugar ( na Grécia ); tempo ( amanhã, ontem ); relação ( duplo, triplo, pai, filho, primo ); ação ( corta, critica, escreve; paixão/poder de sofrer ação ( cortar-se, enfeitar-se ); enfurecer-se; situação/posição (deitado, em pé, inclinado ); posse/estado ( despido, trajado ).

O MOVIMENTO – KÍNESIS – OU O PROBLEMA DA MUDANÇA

A distinção do ser nos modos do ato e da potência permite explicar o movimento e a transformação das coisas. A semente, por exemplo, é a árvore de amanhã, é árvore em potencial, é a árvore, semente atualizada. Assim, o movimento, a mudança ou mutação faz com que as coisas sejam ou não sejam, cheguem a ser ou deixem de ser, mudem de quantidade e de qualidade. O movimento supõe, pois duas coisas: uma coisa que não é ainda realizada, mas que é possível, e a realização dessa coisa. É o que Aristóteles  chama a potência e o ato.A potência é a possibilidade que está envolvida no ser.

DEUS: A METAFÍSICA COMO TEOLOGIA

A filosofia primeira de Aristóteles desemboca, inevitavelmente, numa teologia, numa de Deus. Não podemos nos esquecer de que, devido ao fato de a filosofia primeira estudar o ser imaterial, imóvel e divino, também foi definida, por Aristóteles, como teologia.Em muitas passagens de seus escritos ( na metafísica, na Física, na Psicologia ), Aristóteles formula algo que parece com o que chamamos provas da existência de Deus.O mundo se põe em movimento para alcançar a perfeição suprema, e marcha sem cessar para o melhor. É assim que o mineral tende para a vida do vegetal, o vegetal para a vida do animal, o animal para a vida do homem e o homem para a vida divina. O Deus aristotélico é Causa eficiente tão só por ser  Causa final.

PLOTINO: A METAFÍSICA DO UNO

Baseando nos dados fornecidos pelo médico e discípulo Eustàquio,  segundo o qual Plotino tinha 66 anos quando morreu, Porfírio estabeleceu seu nascimento entre os anos 204-205 a.C. É Porfírio, seu maior discípulo, que nos fornece os dados biográficos de Plotino.Sua Vida de Plotino, composta entre 301 e 305, tornou-se a principal fonte de informações sobre Plotino.

De fato, Plotino passou para história como o grande pensador do final da Antiguidade, fundador da linhagem do neoplatonismo, exegeta de Platão, sábio religioso e místico.Sua filosofia poderia ser classificada como “filosfia da unidade”, da máxima abrangência do Uno, pois os entes só são seres devido á sua unidade.

O UNO

A emanação do Uno não deve ser confundida com a processão hierárquica inteligivelmente ordenada e exclusiva, pois não é uma irradiação do ser, mas uma absolvição no Uno, que irradia “sem nunca realmente de si sair”. O Uno não é objeto de discurso ou ciências ( Em. V, 4, 1 ), pois é infalível, já que a própria linguagem esta  sempre determinada por algo (que é ) e o Uno está “ além do ser “ ( Em. V, 3, 13 ).

Ao Uno não se pode atribuir nenhuma qualidade positiva porque isso importaria reconhecer-lhe composição, o que lhe rebaixaria ao nível das criaturas. Infinito em seu ser, esta além de todas as descrições ou categorias. Por isso, afirma Plotino, “o Uno não é alguma das coisas das quais é princípio, porque nada se pode predicar dele, nem o ser, nem a substância, nem a vida: ele está acima de todas essas coisas” (Em. III, 8, 10 ). O Uno é a realidade suprema da qual se originam todas as outras. A grandeza do Uno não é o fato de estar acima das coisas, mas ser a fonte delas.

A SEGUNDA HIPÓSTASE: O NOÚS-INTELIGÊNCIA

Essa nova hipóstase remete diretamente ao plano das Idéias em Platão como causa e explicação de todas as dimensões sensíveis. O Uno ou o Bem num transbordamento de absoluta perfeição produz o “outro”, o Cosmo criado em toda a sua imensa diversidade, numa série hierárquica  de graduações, afastando-se do centro ontológico em direção aos limites extremos do possível. Antes de todas, o Noûs-Inteligência é a única realidade que tem origem imediata do Uno. Embora gerando inteligência, o Uno permanece imóvel, num estado de quietude absoluta e sempre idêntico a si mesmo. É uma arquitetura inteligível de toda a realidade e constitui o ponto de vista possível de pensar e dizer aquém do Uno inenarrável.

A TERCEIRA HIPÓSTAS: A ALMA DO MUNDO

Do Nous-Inteligência  procede a Alma do Mundo  anima mund ). Nasceu do Noûs em consequência do transbordamento da potência desse último, assim como o Noûs nescera o Uno. Contempla o Noûs  assim como este contempla o Uno. Dessa contemplação retira sua capacidade de agir. Gera, então, o mundo sensível.

Desperta o Universo e é causa de sua vida. A Alma é “espírito de vida” ( Em V, 1, 2 ), é fonte das almas de todos os seres vivos, e constitui a realidade intermediária entre o intelecto espiritual e o mundo da matéria. É nessa questão que o ensinamento de Plotino mais se aproxima dos grandes temas do platonismo: a imortalidade da alma, a purificação e a encarnação , a diversidade e a unidade, a memória.

 


A ORIGEM DA MATÉRIA

O último fruto que procede da Alma do mundo é a matéria.Ela sai da Alma por uma emanação normal,natural e sem prerversidade.Com isso,Plotino deixa de lado o dualismo platônico , no sentido de que a matéria também é gerada pelo princípio superior, a Alma do mundo: “a matéria tem como causa a razão”. (Em. III,2,15) e “os princípios superiores que lhe deram ser fizeram-no gratuitamente” (Em.IV,8,6).

Como último grau das coisas ,é o não –ser,além do qual nada mais pode ser engendrado (cf.I ,8,7).É o “eclipse do ser” (En III,6,6) e o ser “sem qualidades”.Em Enéadas II,4, Plotino oferece uma descrição surpreendente da matéria: a matéria é o fundo obscuro que domina a forma.

Embora de forma imperfeita ,a matéria reflete a gloriosa unidade diversificada existente sob uma conceituação superior no mundo de Formas espirituais da Inteligência:o perceptível é uma imagem do inteligível.

A ANTROPOLOGIA PLOTINIANA

Na herança do Fédon,do Fedro , do Timeu,Plotino discute não apenas a essência da alma ,mas ,num longo tratado (En . IV, 2, 3-4 e 5), várias dificuldades relativas à imortalidade ,à encarnação e ao retorno da alma.

Da Vida, a Alma universal e, da Alma universal, a alma de cada homem.Composto de alma e corpo, espírito e matéria, o homem é ,no sistema plotiniano, o centro nevrálgico.

No tratado Contra os gnósticos (En . II ,9), Plotino condena aqueles que dizem que o mundo é mau, e censura os gnósticos por se contradizerem quando afirmam que o mal e as trevas preexistiam à alma, de modo que ela ossa ter decaído neles.A matéria, que é o não-ser, é o último grau das coisas, o “último sujeito”, Plotino prefere designá-la como “último grau do ser ,além do qual nada mais pode ser engendrado.”(En . I,8,7)

A alma que se encarna não fica prisioneira no corpo.antes,é o corpo que está na alma (Em.IV ,4).A missão própria da alma é restabelecr a unidade original das coisas e reconduzi-las ao Uno.

O RETORNO DA ALMA AO UNO

Sendo o Uno o Único que é o que é , está presente no mais intimo de nós mesmos.Por isso ,a alma nãos e recolhe ao Uno ,mas retorna ao Uno.Esse retorno é um “êxtase “, uma saída de nossos limites, é um abandono de nós mesmos ,um contato.(Em VI, 9,11).

A alma individual, por sua vez, comporta dois parceiros: a alma universal e a alma racional.Uma ideia fundamental de Plotino é que o eu situa-se no nível da Alma.O filósofo deve superar a escravidão humana ao reino físico por meio da autodisciplina e purificação moral e intelectual e voltar-se para o interior,numa gradual ascenção de volta ao Absoluto.

Quando dominadas pelo desejo de vida independente separam-se da Alma universal e descem para os corpos que esta preparou para as receber.Mas a alma pode sempre se purificar e, sem jamais desprezar os corpos, saberá desligar-se deles, e no termo de vidas sucessivas,seu destino será finalmente a união inefável com Deus.

TOMÁS DE AQUINO : A METÁFISICA DO SER

Santo Tomás apresenta a metafísica como ciência divina ou teologia, metafísica e filosofia primeira.

Do ponto de vista filosófico, a grandeza especulativa de Tomas de Aquino reside na elaboração de uma metafísica dos ser,que assenta ,fundamentalmente,numa dupla diferença ontológica:a)a diferença entre os seres (entes) e o ser, b)a diferença,nos seres,entre a essência e o ato de ser (actus essendi).

Nesse sentido, e tomado de modo absoluto, o ser é infinito porque pode ser participado de infinitos modos (Suma contra os gentios, I ,43;doravante:Scg). Entretanto ,importa frisar que este ser não constitui uma realidade particular, intermediária entre Deus e os seres, mas um simples dado conceptual.

A estrutura fundamental da metafísica de Tomás de Aquino surge dentro dessa cosmovisão, e está exposta em obra O ente e a essência ,o estatuto relevante da existência .Para Tomás de Aquino, que aproveitou o ensinamento aristotélico, os er é o conceito mais universal de todos.

Os dois sentidos capitais de a palavra ser são a essência e a existência.Porém, em Deus,não há essa distinção. Da essência de Deus deriva necessariamente a sua existência .

O CONCEITO TOMISTA DE SER

O ser é a causa universal de todas as coisas, porque é o receptáculo de toda perfeição e a fonte última de toda a realidade. Assim ,a causa universalíssima de tudo o que existe não é a água,o ar,o fogo,o bem,ou a substância indefinida,mas o ser. “O ser é o que há de mais íntimo nas coisas;e em todas as coisas é aquilo que elas tem de mais profundo.”Consequentemente,o ser não é uma perfeição mínima nem uma perfeição particular, mas sim a perfeição absoluta,plena.

Na obra De potentia, Tomás de Aquino afirma que:”Entre todas as coisas ,o ser é a mais perfeita. Isso porque o ato é sempre mais perfeito do que a potência ...Consequentemente, aquilo a que dou o nome de ser é a atualidade de qualquer ato, e,portanto, a perfeição de toda perfeição...”

Cabe ao ser não apenas colocar os entes na ordem dos existentes, mas também dar-lhes tudo aquilo que tem como realidades existentes.

Na linha ontológica , o ser é também o supremo valor :é o ser que confere “realidade” a todos os outros valores.

O conceito que santo Tomás tem do ser ,que constitui o objeto da metafísica,é o fundamento do desenvolvimento tomista da prova “ontológica” da existência de Deus.

O ENTE REAL

O ser é a realidade mais universal que se encontra em tudo o que existe, finito ou infinito, real ou conceitual,Deus ou homem. O termo aplica-se ao Criador e às criaturas de forma analógica,ou seja,nem unívoca (com significado idêntico ) nem equivoca (sem nada de comum como defende a teologia negativa, segundo a qual a criatura nada pode dizer acerca do sentido de Deus.)

Para santo Tomás, a essência determina a existência,tal como a forma determina a matéria. Desse modo, tornou-se comum dizer que o tomismo é um essencialismo.

Toda realidade, portanto, tanto o mundo como Deus são entes porque ambos existem. O ente diz respeito a tudo, tanto ao mundo como a Deus,mas de modo analógico,porque somente Deus é ser,mas o mundo tem ser. O ser é o ato que realiza a essência que em si mesma não passa de um poder ser.

Não se trata,portanto,de uma filosofia das essências,mas do ser que permite às essências realizarem-se e se transformarem em entes. Tal filosofia é otimista porque descobre um sentido profundo naquilo que existe. É uma filosofia do concreto,já que o ser é o ato graças ao qual as essências existem de fato.

O ENTE LÓGICO

De inicio ,Tomás afirma que há entre o ente lógico e o ente real.O conceito fundamental é o conceito de ente,com o qual se indica qualquer coisa que exista. Ele pode ser tanto lógico ou puramente conceitual, como real ou extramental.

O universal não é real,porque somente o indivíduo é real. Essa universalidade,porém,não está privada de algum fundamento na realidade da qual é deduzida. Elevando-se acima da experiência sensível , o intelecto alcança uma universalidade que,em parte,é expressão de sua ação de abstração e em parte é expressão da realidade.

O SER POR PARTICIPAÇÃO

Aqui chegamos a outro conceito muito importante da metafísica de Tomás de Aquino: o de participação. A participação significa que os entes não são o ser em si,mas participam do ser,do ato puro de ser que é Deus.

Ao falarmos da origem dos entes,se recorrermos ao termo “participação”,não significa que o ente “recebe uma parte do ser”, pois em Deus não há partes,antes,significa que o ente possui de modo “particular”, “limitado” e “imperfeito” aquela perfeição,que, em Deus,Ser subsistente, encontra-se de modo total ilimitado, perfeito.

A criação da natureza e do homem pressupõe a existência da matéria, isto é, somente se dá forma a uma matéria já existente.

Mas se Deus cria em seu ser para comunicar seu amor e sua bondade, o que é e como explicar o mal que ser faz presente na própria criação? Por que o mal existe , se a criação é um ato do amor e da bondade de Deus? O mal é compreendido por Tomás de Aquino como um acidente;a ausência do bem.

A ANALOGIA DO SER

O ponto de partida da analogia é uma questão de linguagem. Como damos o mesmo nome para realidades tão diversas? Quando se trata do problema do ser , estamos diante de uma dificuldade especial:o ser é um termo unívoco, equivoco ou análogo?De fato,os termos podem ser aplicados às coisas de três maneiras:como unívocos, como equívocos como análogos.

Santo Tomás emprega a analogia que,além de esclarecer a relação entre os entes finitos,apura a relação entre Deus e as criaturas ,entre,o infinito e o finito.

Do mesmo modo,vemos que o conceito ser é aplicado a tudo o que existe,porque tudo o que existe é ,mas obedecendo a certa proporcionalidade, porque nem todos são do mesmo modo,nem todos tem a mesma substancia e os mesmos acidentes.Por isso,a metafísica aplica aqui o principio da analogia do ser ,dirimindo toda confusão que pudesse turbar o entendimento.Portanto,o conceito de ser não é unívoco,isto é não tem o mesmo sentido para todos os seres .Univocos chamamos os termos que designam sempre uma e a mesma coisa.

Um termo é equivoco quando uma mesma palavra indica coisas totalmente diferentes, quando um termo ou um conceito se refere a dois ou mais objetos totalmente distintos entre si e heterogêneos. Nesse sentido,aquilo que ser fala das criaturas pode-se falar de Deus,mas não do mesmo modo ,nem com a mesma intensidade. O falar de Deus é sempre o falar por analogia.

O DEUS CRIADOR

O centro da metafísica de Tomás de Aquino é ocupado pelo Deus criador da cosmovisão cristã.Tudo se dirige a ele,pois o doutor Angélico compreendeu que a soberana tarefa da reflexão filosófica seria conhecer Deus. Mas afinal,quem é esse Deus? É o Deus dos filósofos e dos sábios gregos? É a Deusa-Razão?

Na verdade, trata-se do Deus da cosmogamia judaico –cristã,isto é ,o Deus de Abraão e de Jacó.

O Deus Criador não é o Demiurgo de Platão, que plasma o mundo a partir da matéria caótica,fazendo-a passar da desordem `a ordem. Também não é o Primeiro Motor Imóvel de Aristóteles, que gera um movimento na matéria, cujo resultado é o cosmos. O Deus Criador, que é a causa d etudo o que existe ,não necessita de qualquer realidade externa a si mesmo,isto é,não depende do cosmos ,nem das criaturas que o habitam.Trata-se do Deus que cria o céu e a terra a partir do nada.

A nenhuma criatura convém criar o ex nihilo,nem por força própria, nem instrumentalmente ou por delegação.Ora,nem Deus cria por delegação. A criação do cosmos é um ato próprio e exclusivo de Deus a partir do nada,sem qualquer tipo de intermediação.

Se nada provém do nada,se todo ser não é eterno nem causa de seu próprio existir é causado por uma realidade externa à sua existência , tudo o que existe é causado por um infinito que é Deus.

Essa é uma das mais significativas passagens da Suma Teológica.Deus é a única realidade,que, enquanto agente primeiro cria simplesmente para “comunicar sua perfeição,que á sua bondade”, às criaturas sem precisar ou desejar nada.

A diferença entre as coisas não provem do acaso,mas é fruto da sabedoria divina e da impossibilidade de uma única criatura representar a plenitude do ser de Deus.

AS VIAS DE DEMONSTRAÇÃO DA EXISTENCIA DE DEUS

Tomás de Aquino reconhece à razão uma ampla autonomia fundada somente sobre a autoridade da coerência lógica e da experiência. A razão não tem uso legitimo só em função da fé,como querem os agostinianos.A história da ciência antiga, da qual o aristotelismo é a expressão mais completa,mostra que a razçao pode operar por si mesma, sem o auxilio da revelação. Por outro lado,isso não significa,porém,como queriam os averroístas,que ciência e fé devam ignorar-se totalmente ou se opor.

Para Tomás de Aquino, há entre a filosofia natural e a teologia,sacra colaboração e não separação.

Podemos dizer que,segundo santo Tomás,há duas ordens de conhecimento distintas, a da fé e a da razão. Não há oposição entre filosofia e teologia. Naturalmente , a razão pode sempre se enganar,enquanto a revelação, que é direta expressão de Deus,não erra jamais.Por isso,sendo a teologia a ciência que se faz a partir da revelação ,é a ciência suprema , a rainha das ciências (Regina scientiarum).

Seja na Suma Teológica,seja na Suma contra os Gentios, santo Tomás critica e refuta o argumento ontológico de Santo Anselmo. Para santo Tomás,Anselmo confundo o que é evidente de per si com o que é evidente para nós.

Santo Tomás radicaliza o problema do ser.A filosofia tem que partir do existente real.Daí a crítica à prova ontológica de Santo Anselmo.

Na metafísica tomista,a demonstração da existência de Deus é necessária e possível. Necessária porque não é evidente e possível mostrando a relação causa e efeito.

Analisando com olhos filosóficos, vemos que as vias convergem para um Primeiro Ser. Aceitando-se o principio de causalidade, há nelas valor probatório. Contudo ,observamos também que,na sua argumentação, santo Tomás não conclui taxativamente: “logo,Deus existe”,mas sim, “e isto chamamos Deus”.

DEUS:O SER QUE SUBSISTE POR SI MESMO

A concepção tomista do divino ajusta-se muito bem ao Deus pagão racional,porque santo Tomás de Aquino,ao invés de santo Agostinho, não procura Deus numa mística interiorizante, mas no seio de uma reflexão sobre o ser e sobre a essência das coisas ,dos entes.

Mas a teologia natural não substitui a teologia revelada. Esta ensinamos muito mais sobre Deus do que a razão. A filosofia deve estar a serviço da teologia,ou seja,deve reconhecer-se uma hierarquia das suas verdades respectivas, e as verdades da fé constituem uma finalidade para a razão naquilo que esta tem de melhor.