INTRODUÇÃO
Alguns filósofos que contribuíram direta e
fundamentalmente para o desenvolvimento da pesquisa sobre o ser. A física, como
as ditas ciências exatas, tem uma história, na medida em que suas antigas
concepções da natureza são em todos os sentidos, realmente “passadas”, e
portanto, aparecem como totalmente dependentes do tempo.
A PERGUNTA PELO SER
Mas, afinal, se o ser é o núcleo do desenvolvimento desse
trabalho e o elemento “sine qua non” da metafísica, como a pergunta sobre o ser
do ente surge a investigação filosófica?
A partir da constatação da existência das coisas, pouco a
pouco a mente humana percebe algo com maior fundamentação: o fato de que antes
das coisas existirem, elas são, o que faz emergir a pergunta sobre o ser á
reflexão filosófica.
A metafísica é a indagação sobre o ser, sobre o
fundamento último das coisas, sobre os princípios e constitutivos da realidade.
O nascimento da metafísica coincide com o próprio
nascimento da filosofia. Os pré-socráticos, ao buscarem a origem de todas as
coisas, isto é, princípio que permanece na transição e do qual toda a realidade
teria se originado, deram início a reflexão metafísica.
Mas o estudo do ser somente ganhou consistência a partir
da proposta de Parmênides, de que o ser ´s o não-ser não é.
AS CRÍTICAS À METAFÍSICA
As críticas feitas á metafísica são bem conhecidas,
especialmente depois de David Hume. De certo modo, o próprio Aristóteles já
havia indicado sua inutilidade: “ainda que todas as demais ciências sejam mais
necessárias do que essa ciência, nenhuma é melhor do que ela” ( ARISTÓSTELES,
2006,49 ).
Em outras palavras, a filosofia primeira, do ponto de
vista prática, é uma ciência inútil por excelência: a vida poderia ser trilhada
sem nenhuma necessidade de interrogar-se sobre o ser, ou sobre a existência do supersensível.
Mais que nos tempos de Aristóteles, hoje é possível
acusar a metafísica de inatualidade, porque aquilo que, historicamente, não
produz nada, não pode nem mesmo ter uma visibilidade histórica.
METAFÍSICA E ONTOLOGIA
Enfim, a metafísica é ontologia como ciência do ente
enquanto ente e enquanto busca as suas primeiras causa e princípios. É
teologia, porque na elucidação inteligível do ente enquanto ente se revelará,
dentro dos limites da razão, o ato puro do ser como fonte originária dos entes.
A crítica é metafísica enquanto as implicações do
conhecimento na sua máxima extensão e radicalidade. A ontologia é metafísica
transcende a descrição fenomenológica e o âmbito categorial. A metafísica só é
possível como ciência se no ato pelo qual o homem conhece as coisas do seu
mundo estiver necessariamente incluída, como condição necessária de
inteligibilidade, a afirmação do transcendente. O conhecimento metafísico deve
revelar-se como constitutivo de qualquer conhecimento intelectual.
A FILOSOFIA PRIMEIRA
A metafísica fundamenta-se no pressuposto de que existe
uma realidade em si ( como, por exemplo, Deus alma, mundo, matéria, forma,
essência, substância ), que pode ser estudada pela razão humana, resultando num
conhecimento verdadeiro.
Qual a origem da palavra metafísica? Na verdade, a
palavra “metafísica” não foi criada nem utilizada pelos filósofos gregos.
Aristóteles, considerado o pai da metafísica, chamava aquilo que nós conhecemos
por metafísica de filosofia primeira, em posição a filosofia segunda, que era a
física.
A metafísica é a investigação sobre os princípios primeiros
e as causas mais elevadas da realidade e por isso é denominada primeira, não
somente por sua primazia sobre as demais ciências, mas pela anterioridade do
seu objeto: a substância imóvel, a causa primeira e universal, o fundamento dos
entes particulares. Aristóteles dava preferência a expressão “filosofia
primeira”, no sentido de que ela é a filosofia originária, que não pressupõe
nada além de si mesma e está na base de todo ser filosófico.
METAFÍSICA : A AVENTURA
DE UM TERMO
A palavra “metafísica” encontra-se na Idade Média como
metaphysica, utilizada, particularmente, por Averróis, o comentador, para
referir-se á Philosophia próte, isto é a, filosofia primeira de Aristóteles.
Portando, a tradição medieval começou a usar o termo “metafísico” vinculando à
filosofia aristotélica. Aliás, a origem da própria palavra “metafísica” esta
ligada a descoberta dos 14 livros da filosofia primeira de Aristóteles, uma
coletânea que reúne quase a totalidade do conhecimento aristotélico em matéria
do estudo do ser.
Após a morte de Aristóteles, seus escritos foram
confiados a Teofrasto, seu fiel discípulo e seu sucessor no Liceu.Este por sua
vez, ao morrer, deixou sua biblioteca, juntamente com a de Aristóteles, a
Neleu, que havia sido discípulo de ambos.
Andrônico de Rode transferiu-se para Roma e, conhecendo
muito bem o valor dos escritos de Aristóteles, porque tinha nutrido no liceu,
os estudou com muito zelo e aplicação, transformando-se no primeiro restaurador
de tais obras.
A expressão grega metà ta physikà significa aquelas
coisas ou aqueles objetos que estão depois, que vem depois das coisa físicas ou
então para além da natureza física.Apesar de existir uma reflexão metafísica
que caracteriza o nascimento da filosofia e que ganhou maior evidência com
Parmênides e Platão, Aristóteles é considerado o pai da metafísica, pelo fato
de ter sido o primeiro a formular a idéia de uma ciência que “estuda o ser
enquanto ser”, o que denominou de filosofia primeira.
RELAÇÃO ENTRE METAFÍSICA
E ONTOLOGIA
A palavra “ontologia”, cunhada no século XVII, é
constituída por dois vocábulos gregos: onto e logia, e significa estudo do ser
ou “doutrina do ser e de suas formas” ( ABBAGNANO, 2005,p.848). Nesse sentido,
a etimologia permite o uso do termo “ontologia” como sinônimo de “metafísica”,
perspectiva essa que foi adotada por Johannes Clauberg, Christian Wolff e pelo
filósofo de Konigsberg, Immanuel Kant.
O filósofo alemão Jacobus Thomasius considerou que a
palavra ontologia seria a mais adequada para designar o estudo da filosofia
primeira, pois se esta é o “ estudo do ser enquanto ser” e se a ontologia
estuda o ser, o termo “ontologia”, descreveria com maior precisão do que a
palavra “metafísica” o estudo da filosofia primeira de Aristóteles.
Acontece que Aristóteles não definiu sua filosofia
primeira somente como o “estudo do ser enquanto ser”, mas também como o estudo
dos princípios primeiros e constitutivos da realidade.
OBJETO DA METAFÍSICA
O termo “objeto” da palavra latina objectu ( ob+jectare )
e significa aquilo que é lançado ou colocado diante de, em frente de. Em sentido lato, é tudo aquilo
que se dirige ao ato consciente do sujeito. O objeto da ciência divide-se em
material e formal, sendo que o objeto material é constituído pelo ser concreto
e total que se estuda e o objeto formal é a característica particular, o
aspecto especial que se quer dar ao objeto material.
O objeto material da metafísica são todas as coisas,
todos os entes que compõem a realidade. Já seu objeto formal é o ser enquanto
ser, descrito por Aristóteles em sua metafísica. Assim, enquanto as demais
ciências estudam um ente particular ou um aspecto particular de um ente, a
metafísica estuda todos os entes. Somente é possível chegar ao ser através dos
entes.
O ENTE : PONTO DE
PARTIDA DA METAFÍSICA
A palavra ente, grego= to ón, latim = ens, é de uso raro
na língua portuguesa e, quando é empregado, designa alguma coisa sem
determinação precisa: “ente querido”, “ente de outro mundo”, “entidade
filantrópica”. Na metafísica, ente é usado para designar todo gênero de
realidade, isto é, todas as coisas que compõem o Universo, como, por exemplo,
uma pedra, um elefante, um cachorro, uma flor, um homem, uma árvore. No geral o
ente significa : O que é, O que existe, O que é real.
A ESSÊNCIA: MODO DE SER
DOS ENTES
O termo “essência” deriva da palavra grega ousía, que foi
traduzida para o latim como essência e designa aquilo que faz uma coisa ser tal
qual é. Os entes são compostos por dois princípios constitutivos: o ser (
existência ) e a essência.
Todos os entes que compõem o Universo possuem um elemento
comum, o ser ( em diferentes graus ), pois todos são, mas, por sua vez, se
diferenciam segundo a essência.O ser manifesta-se nos entes.É por isso que a
metafísica possui como ponto de partida o ente particular, pois o ser não se
manifesta por si só, mas somente no ente.
O SER: FUNDAMENTO DOS
ENTES
No latim, ser se diz esse e em grego, on. Em metafísica,
o ser é o elemento principal do ente, aquilo sem o qual o ente nada seria, isto
é, não possuiria, por exemplo, forma tamanho, peso, cor ou qualquer realidade,
pois estaria na categoria do não-ser e nem existiria. O ser não é uma realidade
física, mas metafísica. Não posso, ao tocar um ente, exclamar: “toquei o ser”,
pois o que toquei foi uma manifestação da essência do ser. Pois na medida em
que o ente participa do ser, também existe e possui vários predicados ou
atributos que são intrínsecos à sua
própria essência.
A QUESTÃO DO VOCABULÁRIO
Muitos filósofos empregam termos idênticos encontrados em
outros filósofos, mas com sentido muito diferente ou, então empregam palavras
diferentes para dizer o mesmo que outros já disseram. Dê fato, o fenômeno da
linguagem tradicional, para Bertrand Russell, por exemplo, está em que a
discordância, os equívocos, as ambigüidades girem, muitas vezes, em torno das
palavras.
Sobre esse assunto, John Locke vai mais longe e afirma: “
sinto-me tentado a crer que, se examinássemos a fundo as imperfeições da
linguagem, a maior parte das disputas cairiam por si mesmas, e que o caminho do
conhecimento, e talvez o da paz, ficaria mais aberto para os homens.
O NASCIMENTO DA
METAFÍSICA
A filosofia teve sua origem na Grécia. Surgiu no final do
Século VII e início do VI a.C, nas colônias gregas da Ásia Menor,
especialmente, na cidade de mileto. A palavra “filosofia” devirá dos termos
gregos Philo ( amigo, amante )+ Sophia (sabedoria) e significa “amigo ou amante
da sabedoria”, ou “amor e respeito pelo saber “, O nascimento da filosofia
caracteriza-se pela idéia revolucionária da existência de uma ordem natural no
Universo, capaz de ser decodificada e entendida, o que fez surgir uma nova
fundamentação epistêmica para explicar os fenômenos.
Os primeiros filósofos, surpreendidos pelo vir-a-ser,
isto é, pela mudança, investigaram qual poderia ser a substância fundamental, o
princípio primeiro, o substrato que permanece estável diante do devir. Os pré –
socráticos, ao buscarem o princípio primeiro do qual toda a realidade teria se
originado, romperam com a tradição mítica a partir de um problema metafísico.
Contudo, o estudo do ser somente tornou-se uma autêntica realidade com a
proposta de Parmênides, “de que o ser é o
não-ser-não é, fazendo com que o ser deixasse de ser uma simples
aspiração para tornar-se objeto de estudo.
PARMÊNIDES : O CAMINHO
PARA O SER
A história da filosofia reconhece o mérito de Parmênides
em ter posto, pela primeira vez, o ser como o problema primordial da reflexão
filosófica e, ao mesmo tempo, o mérito de ter formulado uma resposta que
permanecerá um ponto de referência essencial ao pensamento ocidental.
Parmênides escreveu uma obra, na verdade, um poema, conhecido com o titulo
“Sobre a natureza”, do qual chegaram até nós apenas fragmentos. A parte inicial
desse poema ficou conhecida como prelúdio.
O PRELÚDIO DO POEMA
Em
seu livro Introdução aos pré-socráticos, Álvaro José dos Penedos destaca as
seguintes idéias, tiradas do prólogo do poema de Parmênides:
1ª) Parmênides realizou uma viagem; 2ª) Passou pelos
portões dos caminhos da Noite e do Dia; 3ª)O poema é uma revelação de uma
divindade a um mortal; 4ª)Parmênides aprenderá tudo, tanto o caminho da dóxa
quanto o da alétheia. A filosofia é uma viagem perigosa, pois coloca o
filósofo-viajante em contato com o mundo dos conceitos que, aluguns casos,
exigirá a total renúncia de suas pré-formulações conceituais.
Não podemos nos esquecer de que a teoria do ser e do
não-ser de Parmênides supervaloriza o pensamento em detrimento dos sentidos,
valorização essa mentida pela filosofia
de Platão, mas desqualificada por Aristóteles, que concedeu uma dignidade aos
sentidos ausente na filosofia de Parmênides e na de Platão. Assim, a referência
aos caminhos da Noite e do Dia, no poema de Parmênides, exprime o conhecimento
dos segredos do mundo dos mortos entre os iniciados e os não iniciados nos
mistérios órficos.
A REVELAÇÃO DA DEUSA
O terceiro ponto destaca que todo o poema é uma revelação
da deusa a um mortal.Na mitologia grega, esse recurso era natural. Assim, o
mito era considerado inquestionável e sagrado, pois era uma revelação dos
deuses.
Parmênides recorreu à autoridade da deusa para destacar
que a verdade não está no homem, mas é uma descoberta. Do ponto de vista
etimológico, Alétheia vem de léthos, que significa ocultar, velar, encobrir.
Com a partícula negativa, aléthos ganha o significado de desvelamento,
desocultamento, descobrimento.
OBJETIVO E ETRUTURA DO
POEMA
O principal objetivo de Parmênides é o de reiniciar o
conhecimento de uma verdade que não é alcançada pelo homem comum. Para isso, o
filósofo empreende uma viagem junto à deusa que lhe vai mostrar o caminho
seguro para chegar a verdade.A viagem é uma alegoria de iluminação, na qual se
opera a passagem da ignorância da Noite para o conhecimento da Luz. Nesse
fragmento, Parmênides faz uma crítica aos homens que não fazem a distinção
entre o ser e o não-ser e, quando o fazem, não são capazes de se decidir e os
seguem indiscriminadamente.Portanto, também existe uma terceira via, que é
reprovada por não levar o homem a verdade, mas a vagar entre a ignorância e o
conhecimento.
REFLETINDO SOBRE O
POEMA: ALÉTHEIA E DÓXA
Para Parmênides, a procura do que das coisas, que está
exposta em seu poema, deve seguir dois caminhos: o racional verdadeiro, o imutável
e o perfeito (alétheia); e dos sentidos, da opinião, do costume (dóxa), que
traduz a experiência confusa dos sentidos. Tais caminhos se opõem: aceitando-se
um, nega-se o outro. A Alétheia esta ao lado do ser, é o ser, enquanto a dóxa
se identifica com o não-ser, já que produz um discurso que não leva em
consideração a identidade e a permanência do ser.Se o único caminho viável é
aquele do “é”, só nos resta, então, compreender quais são as características
“daquilo que é”.Parmênides estabelece que a sabedoria se torna essencialmente
pensamento do ser ou, com um vocábulo moderno, “ontológico”.
OS PREDICADOS DO SER
Convém destacar e explicar, resumidamente, os predicados
que dizem respeito ao ón, isto é, ao ser, segundo Parmênides: 1) O ón é
presente. 2) Todas as coisa são entes, isto é são. 3) Além disso, esse ente é
imóvel. 4) O ente é um pleno, sem vazios. 5) Por idêntica razão, é
indestrutível e incriado. Na teoria do ser e do não ser, subjaz a valorização
do pensamento em detrimento da percepção sensível. Para Parmênides, o ser é
uno, eterno e imutável, invisível aos nossos sentidos, visível somente ao
pensamento.
Assim, para Parmênides, o pensamento exige três elementos
fundamentais: 1) A identidade, 2) A não-transformação, 3) A não-contradição. A
verdadeira realidade, isto é, o ser, por estar subsumido ás aparências
sensíveis, não pode ser captado pelos sentidos, mas apenas pelo pensamento.
AS CARÁCTERISTICAS DA
DÓXIA
A via do que não é é impraticável e vincula-se à dóxa,
isto é a opinião dos mortais.Essa via move-se dentro da esfera da verdade, e,
por isso, pode ser verdade e erro. A verdade é que poderá decidir o que é
verdade e o que é erro.
As coisas que parecem vir-a-ser são meramente uma ilusão
dos sentidos.
A METAFÍSICA DE PLATÃO
A questão que preocupa Platão é a mesma que, há mais de
um século, ocupava os filósofos precedentes: o problema do ser e do não-ser. A
grande questão, ou se quisermos, a dificuldade fundamental era tornar
compatível o ser – uno, imóvel e eterno – com as coisas – múltiplas, variáveis
e transitórias. Platão aprofunda a pesquisa do ser, diferenciando entre aquilo
entre aquilo que verdadeiramente é e aquilo que, ao contrário, é somente de
modo aparente, finito, contingente. A solução do problema levou Platão à sintise
epistêmica entre a filosofia de Parmênides e a de Heráclito, que as recuperou
quase que integralmente, mas numa nova perspectiva, que chamou de mundo
sensível e mundo das idéias.
A “segunda navegação” representa a contribuição pessoal
de Platão, a navegação realizada sob o impulso de suas próprias forças para
fazer o barco do pensamento a uma realidade suprassensível. Para Platão, a
verdadeira causa pela qual Sócrates foi para o cárcere é de ordem superior, que
representa um valor espiritual e moral: ele decidiu acatar o veredito dos
juízes e submeter-se à lei de Atenas, acreditando que isso representaria o bem
e o conveniente. Por essa razão, a “segunda navegação” constitui a fundação da
história da metafísica.
O SER DAS IDÉIAS
Para nós modernos, as idéias são construções mentais
peculiares a cada mente. A interpretação dada modernamente converte as idéias
em unidades lógicas do pensamento cientifico, faz delas pontos de vista desde
os quais o pensador, enfrentando-se ante as coisas, organiza suas sensações
para conferir-lhes objetividade, realidade.
Em Platão, dada a natureza flutuante e mutável dos
fenômenos sensíveis, o verdadeiro conhecimento (epistéme) é impossível. Este só
será possível se houver uma realidade estável, permanente e eterna para além do
meramente sensível. As Idéias platônica são realidades objetivas, não depende
de nosso pensamento criá-las.Elas existem inteiramente por si mesmas.
Para Sócrates e Platão, a verdadeira causalidade opera
sempre com o fim, enquanto as operações dos elementos físicos são apenas
condições ou “causas acessórias”.
DEMONSTRAÇÃO DO MUNDO
DAS IDÉIAS
No Féldon 79 o
texto no qual Platão procura demonstrar a existência do mundo das idéias, e
quais características da Idéia-Forma podem ser encontradas nele:
-Não é, pois, as coisas compostas ou cujas aquelas cuja
natureza é composta, qua cabe corresponder precisamente a composição? Mas, se
acontece haver alguma coisa não-composta, não é só a ela que convém, mais do
que a qualquer outra coisa, o escapar a esse estado de decomposição.
AS IDÉIAS E AS COISAS
SENSÍVEIS
Como indicamos acima, em Platão as Idéias podem
representar princípios de unificação das coisas sensíveis. A idéia em si mesma
é, em primeiro lugar, a unidade, reunião indissolúvel, amálgama de todos os
caracteres de uma coisa, definição seus caracteres, a essência delas, o que se
poderá dizer, a consistência. Em segundo lugar, Platão confere a ela existência
real, de modo que as Idéias são as essências existentes das coisas do mundo
sensível. Platão descreveu a maneira como um filósofo, que observou muitos
objetos de beleza e que há muito refletia sobre a questão, poderia subitamente
vislumbrar a beleza absoluta – a própria Beleza, suprema, pura, eterna e não
relativa a qualquer pessoa ou coisa específica. O filósofo assim reconhece a
Forma ou Idéia subjacente a qualquer coisa bela.
A IDÉIA-FORMA:
FUNDAMENTO E PRINCÍPIO DO SABER E DO SER
A Idéia é também o fundamento do ser e o princípio de
todo o saber, é a plenitude da existência. A
doutrina das idéias nasce da convicção de Platão de que este mundo
físico, material, é cópia do mundo superior, eterno, inteligível.
O ser é o ser do ente, e, ao mesmo tempo, conhecer uma coisa é saber o que essa coisa é. Não é
possível descobrir uma única coisa e vê-la sem que se veja a sua idéia. O
conhecimento verdadeiro só é possível a partir de uma apreensão direta das
Formas substanciais, transcendentes, que são e estão além da constante confusão
e imperfeição do plano físico. Assim Platão exige que o filósofo vá do particular
ao universal, e alem da aparência à essência. Para Platão, como para
Parmênides, as Idéias são realidades que existem, aliás, as únicas coisas
realmente existentes, uma vez que as coisas que vemos, que caem sob nossas
sensações, são sombras, imagens efêmeras delas.
A ALEGORIA DA CAVERNA
A teoria das idéias foi reproduzida no
livro VII da República, por meio de um diálogo entre Sócrates e seu
interlocutor, Glauco, que enfatiza a existência de uma realidade projetada para
além da experiência sensível.
ENTENDENDO O TEXTO
Platão fala da existência de dois mundos:o sensível, que
corresponde ao nosso mundo, e o inteligível, que corresponde ao mundo
verdadeiro, ao mundo superurânico. No mundo sensível há duas divisões: o mundo
das imagens, que na caverna, é o mundo das sombras produzidas pelos seres
sensíveis, e pode ser também reflexo
produzido por objetos polidos e brilhantes a imagens revelam que existem
modelos-; e o mundo dos seres vivos, as plantas, as coisas, as coisa em geral
naturais ou fabricadas.Dessa forma, as imagens revelam coisa falsas, e os
seres, que são modelos, apresentam os elementos de verdade.
Contudo, a aquisão da verdade somente tem sentido se
compartilhada e difundida, por isso o filósofo torna à caverna, mas sem
abandonar o conhecimento daquilo que verdadeiramente é, sem abdicar do mundo do
ser por excelência.O Sol é a fonte e a causa do conhecimento que se tem do
mundo, a claridade ou a obscuridade das coisas são relativas, isto é, dependem
da luminosidade.
O DEMIURGO: O DEUS-ARTESÃO
O demiurgo é a divindade platônica plasmadora do cosmo, é
a causa de uma ordem primordial fixada na matéria preexistente. Sua função é a
de organizar a matéria caótica, fazendo-a passar da desordem à ordem, isto é,
tornar o caos um cosmo. O mito platônico descreve a existência do cosmo, isto
é, do mundo ordenado, a partir de três elementos: 1) um modelo; 2) um material;
3) um Demiurgo. O Demiurgo, ao transformar o caos em cosmo, move-se por um
desejo, o de dar forma ao mais belo dos mundos possível.
METAFÍSICA DA ALMA
A propósito do tema perene da “ imortalidade da alma”,
Platão aprofunda a busca do sentido inteligível da forma no Fédon.Exige, nessa
reflexão, em termos psicológicos, a ponderação de vários tipos de argumentos.
Imortal, a alma é preexistente e separada da condição corporal e sensível. Para
Sócrates, o “cuidado com a alma” é
missão suprema do homem. Platão acrescenta que esse mandamento do “cuidado com a alma” significa “purificação
da alma”. Conseqüentemente, é conhecendo
que a alma cuida de si mesma, realiza a própria purificação, se converte e se
eleva.
O PROBLEMA DA
IMORTALIDADE
Nos diálogos anteriores ao Timeu, Platão pareccia propor
que as almas não nascem, assim como também não morrem. No Timeu, elas são
geradas pelo Demiurgo, com a mesma substância de que é feita a alma do mundo.
Elas nasceriam, mas por determinação divina, não sujeitas à morte, como não
esta sujeito à morte tudo o que o Demiurgo produz diretamente. Para Platão, o
problema da imortalidade da alma se torna essencial.
Se a alma não encontrou a perfeição, poderá se reencarnar
não só como ser humano, mas também como animal. Assim, almas que viveram na
prática da virtude comum encarnam-se-ão em animais mansos, dóceis, sociáveis,
atém em homens honestos.
A METAFÍSICA DE
ARISTÓTELES
Comecemos por destacar a fragilidade da teoria de Platão
mostrada por Aristóteles, como elemento de contato inicial com o pensamento
aristotélico. Em vários de seus escritos, com muita freqüência, Aristóteles
polemiza contra Platão combatendo o mundo das Idéias, porém mantém sempre o
máximo respeito para com aquele que
chama de mestre ou amigo ( amicus Plato, sed major amicus veritas). Nas objeções
de Aristóteles, é a desnecessária
duplicação das coisas; o número das
idéias tem de ser infinito; Se há Idéias de cada coisa, terá que haver também
Idéias das relações, uma vez que percebemos as relações. Intuitivamente, entre
as coisas; Se há Idéia do positivo, deverá haver também Idéias do negativo; A
doutrina das Idéias não explica a produção, isto é, a gênese das coisas; Por
fim, a última objeção de Aristóteles se refere á transcendência absoluta que
põe uma cisão entre o mundo das Idéias e o mundo das coisas.
A ESSÊNCIA ESTÁ NA
PRÓPRIA COISA
Diferentemente de Platão, Aristóteles considera que a
essência verdadeira das coisas naturais, dos seres humanos e de suas ações não
esta no mundo das Idéias, separado do mundo sensível. As essências estão nas
próprias coisas, nos próprios seres, nas próprias ações e é tarefa d filosofia
primeira conhecê-las ali mesmo onde existem. Para o indivíduo em si, segundo
Aristóteles, o que constitui a existência real é a atividade: ser é agir e agir
é ser, diz Aristóteles.
A SUBSTÂNCIA
O termo substância tem uma série de significados diferentes
nos diálogos de Platão e em Aristóteles. Parece que Aristóteles está convencido
de que o problema posto pela questão “o que é ser?” realmente se resolve em “o
que é a ousia (a substância)? Visto que o ser é, primeiramente e antes de tudo,
substância. A substância é, para Aristóteles aquilo que existe numa unidade
indissolúvel com o que é com sua essência e com seus acidentes.
Na Metafísica, onde se trata de refutar a teoria
platônica, limita-se a negar que os universais sejam substâncias, enquanto as
Categorias os chamam substâncias segundas ou substâncias num sentido secundário
e derivado. Em qualquer caso, é o indivíduo o que é verdadeiramente substância,
e só ele. A substância é, em suma, o correlato objetivo do sujeito na
proposição, do sujeito no juízo. A substância se compõe de matéria e forma. De
matéria-prima e forma substancial. É a teoria do hilemorfismo.O universal é a
forma, o momento abstrato da substância.
DOUTRINA DO ATO E DA
POTÊNCIA
Os pré-socráticos, preocupados em saber como um corpo se
transforma em outro, concluíram que havia uma única substância que permanência
sem sofrer quais mutações em corpos diferentes. Para Tales, essa substância era
a água; para Anaxímenes, o ar para Heráclito, o fogo; para Anaximandro, o
indeterminado. Parmênides, por sua vez, nega toda espécie de mudança. O ato,
portanto, é primeiro que a potência. O qual provém sempre do potencial, e o
potencial é sempre levado ao ato por algo
que já em ato.
MATÉRIA E FORMA
Uma das críticas fundamentais que Aristóteles fez a
Platão consiste em recriminar-lhe que as
Idéias não tinham atuação, eram inoperantes. O que Aristóteles chama matéria?
Trata-se de um conceito que nem sempre tem a ver com o que em física chamamos hoje
matéria. Matéria, para ele. É simplesmente aquilo com que alguma coisa é ou
está feita. A palavra “forma”, a toma Aristóteles a geometria. Isso se deve a
influência que a geometria tinha sobre Sócrates e Platão. Não esqueçamos que
Platão inscreveu na porta de sua escola,
A Academia, um letreiro que dizia; “ Ninguém entre aqui se não for geômetra”.
AS QUATRO CAUSAS
As causas das quais se ocupa a filosofia são apresentadas
no livro da Física, e em número de quatro: a substância ou essência de uma
coisa; a matéria ou o sujeito; a fonte do movimento ou causa eficiente; a causa
final ou bem. No livro primeiro da Metafísica, Aristóteles passa em revista os
ensinamentos de seus predecessores, para, segundo afirma, ver se trataram de
alguma espécie de causas que não fossem os quatros enumerados por ele. Causa
material, Causa forma, Causa eficiente e Causa final. A humanidade, por
exemplo, não existe fora dos indivíduos que realizaram ou do pensamento que a
concebe. Ela é a forma essencial e atual dos indivíduos do gênero humano.
O PRINCÍPIO DE
INDIVIDUAÇÃO
Mas resta-nos ainda uma pergunta fundamental a ser
respondida: o que faz com que tal coisa seja realmente tal coisa dentro de uma
espécie? Porque não somos iguais, se somos todos iguais? A substância concreta
sensível é, pois, um ser individual composto de matéria e Forma. Porém, o
elemento formal de tal ser, o que faz que seja uma coisa concreta, é
especificamente o mesmo em todos os membros de uma espécie. Essa teoria de que
a matéria que individualiza costuma ser vista como conseqüência ou um legado do
platonismo, para o qual a Forma é o universal.
SER E ACIDENTES: AS
CATEGORIAS
O ser é objeto da filosofia.como será preciso concebê-lo?
De início. Deve-se distinguir o ser do acidente, que não é nem sempre nem o
mais freqüente, não pode ser objeto de ciência. Categoria é o modo pelo qual se
revela o que uma coisa é ou age, o predicado de uma coisa ou de um sujeito.As
categorias são os diversos modos de predicar o ser. São as seguintes: Substância
( homem ); quantidade ( um metro );
qualidade ( amarelo, roxo ); lugar ( na Grécia ); tempo ( amanhã, ontem );
relação ( duplo, triplo, pai, filho, primo ); ação ( corta, critica, escreve;
paixão/poder de sofrer ação ( cortar-se, enfeitar-se ); enfurecer-se;
situação/posição (deitado, em pé, inclinado ); posse/estado ( despido, trajado
).
O MOVIMENTO – KÍNESIS –
OU O PROBLEMA DA MUDANÇA
A distinção do ser nos modos do ato e da potência permite
explicar o movimento e a transformação das coisas. A semente, por exemplo, é a
árvore de amanhã, é árvore em potencial, é a árvore, semente atualizada. Assim,
o movimento, a mudança ou mutação faz com que as coisas sejam ou não sejam,
cheguem a ser ou deixem de ser, mudem de quantidade e de qualidade. O movimento
supõe, pois duas coisas: uma coisa que não é ainda realizada, mas que é
possível, e a realização dessa coisa. É o que Aristóteles chama a potência e o ato.A potência é a
possibilidade que está envolvida no ser.
DEUS: A METAFÍSICA COMO
TEOLOGIA
A filosofia primeira de Aristóteles desemboca,
inevitavelmente, numa teologia, numa de Deus. Não podemos nos esquecer de que,
devido ao fato de a filosofia primeira estudar o ser imaterial, imóvel e
divino, também foi definida, por Aristóteles, como teologia.Em muitas passagens
de seus escritos ( na metafísica, na Física, na Psicologia ), Aristóteles
formula algo que parece com o que chamamos provas da existência de Deus.O mundo
se põe em movimento para alcançar a perfeição suprema, e marcha sem cessar para
o melhor. É assim que o mineral tende para a vida do vegetal, o vegetal para a
vida do animal, o animal para a vida do homem e o homem para a vida divina. O
Deus aristotélico é Causa eficiente tão só por ser Causa final.
PLOTINO: A METAFÍSICA DO
UNO
Baseando nos dados fornecidos pelo médico e discípulo
Eustàquio, segundo o qual Plotino tinha
66 anos quando morreu, Porfírio estabeleceu seu nascimento entre os anos
204-205 a.C. É Porfírio, seu maior discípulo, que nos fornece os dados
biográficos de Plotino.Sua Vida de Plotino, composta entre 301 e 305, tornou-se
a principal fonte de informações sobre Plotino.
De fato, Plotino passou para história como o grande
pensador do final da Antiguidade, fundador da linhagem do neoplatonismo,
exegeta de Platão, sábio religioso e místico.Sua filosofia poderia ser
classificada como “filosfia da unidade”, da máxima abrangência do Uno, pois os
entes só são seres devido á sua unidade.
O UNO
A emanação do Uno não deve ser confundida com a processão
hierárquica inteligivelmente ordenada e exclusiva, pois não é uma irradiação do
ser, mas uma absolvição no Uno, que irradia “sem nunca realmente de si sair”. O
Uno não é objeto de discurso ou ciências ( Em. V, 4, 1 ), pois é infalível, já
que a própria linguagem esta sempre determinada
por algo (que é ) e o Uno está “ além do ser “ ( Em. V, 3, 13 ).
Ao Uno não se pode atribuir nenhuma qualidade positiva
porque isso importaria reconhecer-lhe composição, o que lhe rebaixaria ao nível
das criaturas. Infinito em seu ser, esta além de todas as descrições ou
categorias. Por isso, afirma Plotino, “o Uno não é alguma das coisas das quais
é princípio, porque nada se pode predicar dele, nem o ser, nem a substância,
nem a vida: ele está acima de todas essas coisas” (Em. III, 8, 10 ). O Uno é a
realidade suprema da qual se originam todas as outras. A grandeza do Uno não é
o fato de estar acima das coisas, mas ser a fonte delas.
A SEGUNDA HIPÓSTASE: O
NOÚS-INTELIGÊNCIA
Essa nova hipóstase remete diretamente ao plano das
Idéias em Platão como causa e explicação de todas as dimensões sensíveis. O Uno
ou o Bem num transbordamento de absoluta perfeição produz o “outro”, o Cosmo
criado em toda a sua imensa diversidade, numa série hierárquica de graduações, afastando-se do centro
ontológico em direção aos limites extremos do possível. Antes de todas, o
Noûs-Inteligência é a única realidade que tem origem imediata do Uno. Embora
gerando inteligência, o Uno permanece imóvel, num estado de quietude absoluta e
sempre idêntico a si mesmo. É uma arquitetura inteligível de toda a realidade e
constitui o ponto de vista possível de pensar e dizer aquém do Uno inenarrável.
A TERCEIRA HIPÓSTAS: A
ALMA DO MUNDO
Do Nous-Inteligência
procede a Alma do Mundo anima
mund ). Nasceu do Noûs em consequência do transbordamento da potência desse
último, assim como o Noûs nescera o Uno. Contempla o Noûs assim como este contempla o Uno. Dessa
contemplação retira sua capacidade de agir. Gera, então, o mundo sensível.
Desperta o Universo e é causa de sua vida. A Alma é
“espírito de vida” ( Em V, 1, 2 ), é fonte das almas de todos os seres vivos, e
constitui a realidade intermediária entre o intelecto espiritual e o mundo da
matéria. É nessa questão que o ensinamento de Plotino mais se aproxima dos grandes
temas do platonismo: a imortalidade da alma, a purificação e a encarnação , a
diversidade e a unidade, a memória.
A ORIGEM DA MATÉRIA
O último fruto que procede da Alma do mundo é a
matéria.Ela sai da Alma por uma emanação normal,natural e sem prerversidade.Com
isso,Plotino deixa de lado o dualismo platônico , no sentido de que a matéria
também é gerada pelo princípio superior, a Alma do mundo: “a matéria tem como
causa a razão”. (Em. III,2,15) e “os princípios superiores que lhe deram ser
fizeram-no gratuitamente” (Em.IV,8,6).
Como último grau das coisas ,é o não –ser,além do
qual nada mais pode ser engendrado (cf.I ,8,7).É o “eclipse do ser” (En
III,6,6) e o ser “sem qualidades”.Em Enéadas II,4, Plotino oferece uma
descrição surpreendente da matéria: a matéria é o fundo obscuro que domina a
forma.
Embora de forma imperfeita ,a matéria reflete a
gloriosa unidade diversificada existente sob uma conceituação superior no mundo
de Formas espirituais da Inteligência:o perceptível é uma imagem do
inteligível.
A ANTROPOLOGIA PLOTINIANA
Na herança do Fédon,do Fedro , do Timeu,Plotino
discute não apenas a essência da alma ,mas ,num longo tratado (En . IV, 2, 3-4
e 5), várias dificuldades relativas à imortalidade ,à encarnação e ao retorno
da alma.
Da Vida, a Alma universal e, da Alma universal, a
alma de cada homem.Composto de alma e corpo, espírito e matéria, o homem é ,no
sistema plotiniano, o centro nevrálgico.
No tratado Contra os gnósticos (En . II ,9),
Plotino condena aqueles que dizem que o mundo é mau, e censura os gnósticos por
se contradizerem quando afirmam que o mal e as trevas preexistiam à alma, de
modo que ela ossa ter decaído neles.A matéria, que é o não-ser, é o último grau
das coisas, o “último sujeito”, Plotino prefere designá-la como “último grau do
ser ,além do qual nada mais pode ser engendrado.”(En . I,8,7)
A alma que se encarna não fica prisioneira no
corpo.antes,é o corpo que está na alma (Em.IV ,4).A missão própria da alma é
restabelecr a unidade original das coisas e reconduzi-las ao Uno.
O RETORNO DA ALMA AO UNO
Sendo o Uno o Único que é o que é , está presente
no mais intimo de nós mesmos.Por isso ,a alma nãos e recolhe ao Uno ,mas
retorna ao Uno.Esse retorno é um “êxtase “, uma saída de nossos limites, é um
abandono de nós mesmos ,um contato.(Em VI, 9,11).
A alma individual, por sua vez, comporta dois
parceiros: a alma universal e a alma racional.Uma ideia fundamental de Plotino
é que o eu situa-se no nível da Alma.O filósofo deve superar a escravidão
humana ao reino físico por meio da autodisciplina e purificação moral e
intelectual e voltar-se para o interior,numa gradual ascenção de volta ao
Absoluto.
Quando dominadas pelo desejo de vida independente
separam-se da Alma universal e descem para os corpos que esta preparou para as
receber.Mas a alma pode sempre se purificar e, sem jamais desprezar os corpos,
saberá desligar-se deles, e no termo de vidas sucessivas,seu destino será
finalmente a união inefável com Deus.
TOMÁS DE AQUINO : A METÁFISICA DO
SER
Santo Tomás apresenta a metafísica como ciência
divina ou teologia, metafísica e filosofia primeira.
Do ponto de vista filosófico, a grandeza
especulativa de Tomas de Aquino reside na elaboração de uma metafísica dos
ser,que assenta ,fundamentalmente,numa dupla diferença ontológica:a)a diferença
entre os seres (entes) e o ser, b)a diferença,nos seres,entre a essência e o
ato de ser (actus essendi).
Nesse sentido, e tomado de modo
absoluto, o ser é infinito porque pode ser participado de infinitos modos (Suma
contra os gentios, I ,43;doravante:Scg). Entretanto ,importa frisar que este
ser não constitui uma realidade particular, intermediária entre Deus e os
seres, mas um simples dado conceptual.
A estrutura fundamental da
metafísica de Tomás de Aquino surge dentro dessa cosmovisão, e está exposta em
obra O ente e a essência ,o estatuto relevante da existência .Para Tomás de
Aquino, que aproveitou o ensinamento aristotélico, os er é o conceito mais
universal de todos.
Os dois sentidos capitais de a
palavra ser são a essência e a existência.Porém, em Deus,não há essa distinção.
Da essência de Deus deriva necessariamente a sua existência .
O CONCEITO TOMISTA DE SER
O ser é a causa universal de
todas as coisas, porque é o receptáculo de toda perfeição e a fonte última de
toda a realidade. Assim ,a causa universalíssima de tudo o que existe não é a
água,o ar,o fogo,o bem,ou a substância indefinida,mas o ser. “O ser é o que há
de mais íntimo nas coisas;e em todas as coisas é aquilo que elas tem de mais
profundo.”Consequentemente,o ser não é uma perfeição mínima nem uma perfeição
particular, mas sim a perfeição absoluta,plena.
Na obra De potentia, Tomás de
Aquino afirma que:”Entre todas as coisas ,o ser é a mais perfeita. Isso porque
o ato é sempre mais perfeito do que a potência ...Consequentemente, aquilo a
que dou o nome de ser é a atualidade de qualquer ato, e,portanto, a perfeição
de toda perfeição...”
Cabe ao ser não apenas colocar os
entes na ordem dos existentes, mas também dar-lhes tudo aquilo que tem como
realidades existentes.
Na linha ontológica , o ser é
também o supremo valor :é o ser que confere “realidade” a todos os outros
valores.
O conceito que santo Tomás tem do
ser ,que constitui o objeto da metafísica,é o fundamento do desenvolvimento
tomista da prova “ontológica” da existência de Deus.
O ENTE REAL
O ser é a realidade mais
universal que se encontra em tudo o que existe, finito ou infinito, real ou
conceitual,Deus ou homem. O termo aplica-se ao Criador e às criaturas de forma
analógica,ou seja,nem unívoca (com significado idêntico ) nem equivoca (sem
nada de comum como defende a teologia negativa, segundo a qual a criatura nada
pode dizer acerca do sentido de Deus.)
Para santo Tomás, a essência determina
a existência,tal como a forma determina a matéria. Desse modo, tornou-se comum
dizer que o tomismo é um essencialismo.
Toda realidade, portanto, tanto o
mundo como Deus são entes porque ambos existem. O ente diz respeito a tudo,
tanto ao mundo como a Deus,mas de modo analógico,porque somente Deus é ser,mas
o mundo tem ser. O ser é o ato que realiza a essência que em si mesma não passa
de um poder ser.
Não se trata,portanto,de uma
filosofia das essências,mas do ser que permite às essências realizarem-se e se
transformarem em entes. Tal filosofia é otimista porque descobre um sentido
profundo naquilo que existe. É uma filosofia do concreto,já que o ser é o ato
graças ao qual as essências existem de fato.
O ENTE LÓGICO
De inicio ,Tomás afirma que há
entre o ente lógico e o ente real.O conceito fundamental é o conceito de
ente,com o qual se indica qualquer coisa que exista. Ele pode ser tanto lógico
ou puramente conceitual, como real ou extramental.
O universal não é real,porque
somente o indivíduo é real. Essa universalidade,porém,não está privada de algum
fundamento na realidade da qual é deduzida. Elevando-se acima da experiência
sensível , o intelecto alcança uma universalidade que,em parte,é expressão de
sua ação de abstração e em parte é expressão da realidade.
O SER POR PARTICIPAÇÃO
Aqui chegamos a outro conceito
muito importante da metafísica de Tomás de Aquino: o de participação. A
participação significa que os entes não são o ser em si,mas participam do
ser,do ato puro de ser que é Deus.
Ao falarmos da origem dos
entes,se recorrermos ao termo “participação”,não significa que o ente “recebe
uma parte do ser”, pois em Deus não há partes,antes,significa que o ente possui
de modo “particular”, “limitado” e “imperfeito” aquela perfeição,que, em
Deus,Ser subsistente, encontra-se de modo total ilimitado, perfeito.
A criação da natureza e do homem
pressupõe a existência da matéria, isto é, somente se dá forma a uma matéria já
existente.
Mas se Deus cria em seu ser para
comunicar seu amor e sua bondade, o que é e como explicar o mal que ser faz
presente na própria criação? Por que o mal existe , se a criação é um ato do
amor e da bondade de Deus? O mal é compreendido por Tomás de Aquino como um
acidente;a ausência do bem.
A ANALOGIA DO SER
O ponto de partida da analogia é
uma questão de linguagem. Como damos o mesmo nome para realidades tão diversas?
Quando se trata do problema do ser , estamos diante de uma dificuldade
especial:o ser é um termo unívoco, equivoco ou análogo?De fato,os termos podem
ser aplicados às coisas de três maneiras:como unívocos, como equívocos como
análogos.
Santo Tomás emprega a analogia
que,além de esclarecer a relação entre os entes finitos,apura a relação entre
Deus e as criaturas ,entre,o infinito e o finito.
Do mesmo modo,vemos que o
conceito ser é aplicado a tudo o que existe,porque tudo o que existe é ,mas
obedecendo a certa proporcionalidade, porque nem todos são do mesmo modo,nem
todos tem a mesma substancia e os mesmos acidentes.Por isso,a metafísica aplica
aqui o principio da analogia do ser ,dirimindo toda confusão que pudesse turbar
o entendimento.Portanto,o conceito de ser não é unívoco,isto é não tem o mesmo
sentido para todos os seres .Univocos chamamos os termos que designam sempre
uma e a mesma coisa.
Um termo é equivoco quando uma
mesma palavra indica coisas totalmente diferentes, quando um termo ou um
conceito se refere a dois ou mais objetos totalmente distintos entre si e
heterogêneos. Nesse sentido,aquilo que ser fala das criaturas pode-se falar de
Deus,mas não do mesmo modo ,nem com a mesma intensidade. O falar de Deus é
sempre o falar por analogia.
O DEUS CRIADOR
O centro da metafísica de Tomás
de Aquino é ocupado pelo Deus criador da cosmovisão cristã.Tudo se dirige a
ele,pois o doutor Angélico compreendeu que a soberana tarefa da reflexão
filosófica seria conhecer Deus. Mas afinal,quem é esse Deus? É o Deus dos
filósofos e dos sábios gregos? É a Deusa-Razão?
Na verdade, trata-se do Deus da
cosmogamia judaico –cristã,isto é ,o Deus de Abraão e de Jacó.
O Deus Criador não é o Demiurgo
de Platão, que plasma o mundo a partir da matéria caótica,fazendo-a passar da
desordem `a ordem. Também não é o Primeiro Motor Imóvel de Aristóteles, que
gera um movimento na matéria, cujo resultado é o cosmos. O Deus Criador, que é
a causa d etudo o que existe ,não necessita de qualquer realidade externa a si
mesmo,isto é,não depende do cosmos ,nem das criaturas que o habitam.Trata-se do
Deus que cria o céu e a terra a partir do nada.
A nenhuma criatura convém criar o
ex nihilo,nem por força própria, nem instrumentalmente ou por delegação.Ora,nem
Deus cria por delegação. A criação do cosmos é um ato próprio e exclusivo de
Deus a partir do nada,sem qualquer tipo de intermediação.
Se nada provém do nada,se todo
ser não é eterno nem causa de seu próprio existir é causado por uma realidade
externa à sua existência , tudo o que existe é causado por um infinito que é
Deus.
Essa é uma das mais
significativas passagens da Suma Teológica.Deus é a única realidade,que,
enquanto agente primeiro cria simplesmente para “comunicar sua perfeição,que á
sua bondade”, às criaturas sem precisar ou desejar nada.
A diferença entre as coisas não
provem do acaso,mas é fruto da sabedoria divina e da impossibilidade de uma
única criatura representar a plenitude do ser de Deus.
AS VIAS DE DEMONSTRAÇÃO DA EXISTENCIA DE DEUS
Tomás de Aquino reconhece à razão
uma ampla autonomia fundada somente sobre a autoridade da coerência lógica e da
experiência. A razão não tem uso legitimo só em função da fé,como querem os
agostinianos.A história da ciência antiga, da qual o aristotelismo é a
expressão mais completa,mostra que a razçao pode operar por si mesma, sem o
auxilio da revelação. Por outro lado,isso não significa,porém,como queriam os
averroístas,que ciência e fé devam ignorar-se totalmente ou se opor.
Para Tomás de Aquino, há entre a
filosofia natural e a teologia,sacra colaboração e não separação.
Podemos dizer que,segundo santo
Tomás,há duas ordens de conhecimento distintas, a da fé e a da razão. Não há
oposição entre filosofia e teologia. Naturalmente , a razão pode sempre se
enganar,enquanto a revelação, que é direta expressão de Deus,não erra jamais.Por
isso,sendo a teologia a ciência que se faz a partir da revelação ,é a ciência
suprema , a rainha das ciências (Regina scientiarum).
Seja na Suma Teológica,seja na
Suma contra os Gentios, santo Tomás critica e refuta o argumento ontológico de
Santo Anselmo. Para santo Tomás,Anselmo confundo o que é evidente de per si com
o que é evidente para nós.
Santo Tomás radicaliza o problema
do ser.A filosofia tem que partir do existente real.Daí a crítica à prova
ontológica de Santo Anselmo.
Na metafísica tomista,a
demonstração da existência de Deus é necessária e possível. Necessária porque
não é evidente e possível mostrando a relação causa e efeito.
Analisando com olhos filosóficos,
vemos que as vias convergem para um Primeiro Ser. Aceitando-se o principio de
causalidade, há nelas valor probatório. Contudo ,observamos também que,na sua
argumentação, santo Tomás não conclui taxativamente: “logo,Deus existe”,mas
sim, “e isto chamamos Deus”.
DEUS:O SER QUE SUBSISTE POR SI MESMO
A concepção tomista do divino ajusta-se
muito bem ao Deus pagão racional,porque santo Tomás de Aquino,ao invés de santo
Agostinho, não procura Deus numa mística interiorizante, mas no seio de uma
reflexão sobre o ser e sobre a essência das coisas ,dos entes.
Mas a teologia natural não substitui
a teologia revelada. Esta ensinamos muito mais sobre Deus do que a razão. A
filosofia deve estar a serviço da teologia,ou seja,deve reconhecer-se uma
hierarquia das suas verdades respectivas, e as verdades da fé constituem uma
finalidade para a razão naquilo que esta tem de melhor.